WILSON DE OLIVEIRA NETO (A HISTORICIDADE DAS COISAS): OS “FASCI” DE TRUMP

A HISTORICIDADE DAS COISAS SÃO BENTO DO SUL

Apesar de existir uma explicação plausível para a presença do símbolo…

Por Wilson de Oliveira Neto, historiador

Desde que iniciou o seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump tem dado o que falar. Suas ações e pronunciamentos, inevitavelmente, causam rebuliço sempre que ocorrem. No dia 4, por exemplo, Trump discursou no Congresso americano, cuja repercussão foi além das paredes daquele local.

Contudo, não é sobre o discurso de Trump que desejo abordar nesta coluna, mas de um item decorativo com alto poder simbólico que aparece atrás da tribuna da qual ele falou e que é possível enxergar nas fotografias feitas durante o discurso. Separados pela bandeira dos Estados Unidos e entre colunas jônicas, é possível ver dois grandes fasci dourados.

Feixe
Metal –
Para quem não sabe, fascio (no plural, fasci) era um machado de metal envolvido em um feixe de varas, símbolo de autoridade e unidade da Roma republicana, que era carregado pelos lictores, guardas que acompanhavam, protegiam e serviam os altos magistrados romanos. Os fasci eram mais um instrumento simbólico que de defesa, que é possível ver em diversas cenas da minissérie “Roma”, da HBO.

Ué, mas o fascio não é um símbolo fascista, tal como a suástica? Originalmente, não. Na verdade, segundo é possível constatar em autores, como, por exemplo, Robert Paxton, até o aparecimento do movimento fascista na Itália, em 1919, o objeto e a palavra fascio eram de “uso geral entre grupos ativistas de diversos matizes políticos”.

De acordo com Paxton, antes de 1914, “foi a Esquerda que se apropriou do simbolismo dos fasces romanos. Marianne, o símbolo da República francesa, foi muitas vezes retratada, no século XIX, portando os fasces, para representar a força da solidariedade republicana contra seus inimigos aristocratas e clericais”.

Paradigma
Colunas –
Ainda nos oitocentos e, estendendo-se até a primeira metade do século XX, a República Romana (509 – 27 a.C.), nos seus aspectos institucionais e simbólicos, serviu de paradigma para os países, cujos regimes políticos eram republicanos, a exemplo dos Estados Unidos, cuja capital Washington D.C. possui uma arquitetura de prédios públicos claramente influenciada pelo patrimônio arquitetônico romano.

Daí, as colunas jônicas e os fasci localizados atrás da tribuna em que o presidente Donald Trump discursou. No Brasil, o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), inaugurado em 1926, também é decorado por diversos fasci, que remetem aos poderes do Estado e das Leis, simbolismo este comum entre as repúblicas presidencialistas da época, a exemplo do Brasil e dos Estados Unidos.

Explicação plausível
“Coisa do povo”
– Apesar de existir uma explicação plausível para a presença de um símbolo que passou a ser associado automaticamente ao fascismo, não deixa de ser um tanto irônica a combinação entre um presidente acusado de ser fascista (ou neofascista) discursar na sede do Poder Legislativo federal dos Estados Unidos (lembrando que esse poder foi detonado pelos regimes fascistas) que possui uma decoração que é ligada ao fascismo, cujas origens, porém, estão relacionadas à Res publica, a tal da “coisa do povo”, lá dos antigos romanos.

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