WILSON DE OLIVEIRA NETO: O GOLPE DE 1964 DO ALTO DA SERRA

A HISTORICIDADE DAS COISAS SÃO BENTO DO SUL

No próximo dia 31, será comemorado o aniversário de 60 anos do ato que resultou na instalação de um regime militar de 21 anos

Por Wilson de Oliveira Neto,
historiador

No próximo dia 31, será comemorado o aniversário de 60 anos do Golpe de 64, que resultou na queda do presidente João Goulart e na instalação de um regime militar de 21 anos, ao longo dos quais o Brasil foi governado por cinco presidentes-generais.

Para muitos, o Golpe de 64 é conhecido como Revolução, um eufemismo recorrente na história política brasileira para golpe ou rebelião quando partem das elites políticas e sociais. A elite faz “revolução”, como em 1923, 1924, 1930, 1932 e 1964. Já o povo, o populacho, a arraia-miúda, revolta-se.

Lembram das aulas de História sobre a Revolta da Vacina ou da Chibata? Revolução é algo solene e está ligada a uma causa, que somente a elite pode compreender. Já a revolta, é a turba em movimento, cujo arrastão é respondido pela ponta da baioneta do fuzil.

Como a elite faz revolução, no máximo, uma luta aqui e outra acolá. Em torno dos seus poucos mortos, erguem-se monumentos e professam-se cultos cívicos em lugares de memória e rituais de recordação.

Em um País marcado pela polarização política entre direita e esquerda, certamente o aniversário do golpe militar será alvo de disputadas simbólicas em que a instrumentalização do passado será inevitável.

Reações públicas
Foguetes –
Nessas circunstâncias, aproveitarei este espaço para falar um pouco sobre as reações públicas ao Golpe de 64 em São Bento do Sul. Segundo o jornal “Tribuna da Serra”, em uma matéria publicada na primeira página da sua edição de 19 de abril de 1964, a vitória da democracia parou São Bento do Sul.

“A cidade parou nas fábricas, nas casas de comércio, nas repartições públicas, para festejar diante da Prefeitura a vitória da Democracia. Enquanto em Brasília se realizavam as solenidades pela subida à presidência da República do Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, em São Bento do Sul ecoavam o badalar dos sinos das igrejas, o silvo das sirenes das fábricas, o estalar dos foguetes e as marchas da Banda Treml. Uma multidão calculada em três mil pessoas, onde se viam representantes de todas as classes sociais, assistiu o hastear da bandeira ao som do hino nacional. Na escadaria da Prefeitura estavam todas as autoridades civis, eclesiásticas e militares”.

Oradores e desfile
“Eleição”
– Após, seguiram-se os oradores locais, sendo mencionados na reportagem o escritor Santana Blake e os empresários Otair Becker e Goedert Neto. Também falou o juiz de Direito, Maximiliano Morgenstern. Encerradas as falas, o público deu início a um desfile pelas ruas do centro de São Bento do Sul, tendo à frente a Banda Treml, “sempre na vanguarda dos movimentos cívicos de São Bento do Sul”.

A matéria publicada na “Tribuna da Serra” foi encerrada com a conclusão de que “a cidade, pela maioria da sua população, compreendeu que a eleição de um presidente da República pelo Congresso Nacional significa uma bela vitória da Democracia”, e não o início de um período de 21 anos de ditadura.

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