WILSON DE OLIVEIRA NETO: NEONAZISTAS EM SANTA CATARINA

A HISTORICIDADE DAS COISAS SÃO BENTO DO SUL

Não é de hoje, nem de ontem, que a imprensa, o Ministério Público e a Polícia Civil chamam a atenção para esse fato

Por Wilson de Oliveira Neto, historiador

O jornalista catarinense Cláudio de Menezes, conhecido entre o público como Cacau Menezes, publicou, no último dia 12, em sua coluna no jornal “ND+”, um pequeno texto intitulado “Caçadores de nazistas estão em Santa Catarina, tome cuidado!”. Nele, o colunista, em um tom azedo, comentou a presença em Florianópolis de uma comitiva do governo federal ligada ao Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), ciceroneada por Ideli Salvatti (PT), ex-ministra e senadora.

A razão de tal visita, segundo o jornalista, seria criar “factoides” sobre atividades de células neonazistas, de forma a “prejudicar a imagem do nosso Estado”. Incomodado com o fato, Menezes recomendou que Salvatti e os representantes do CNDH fossem recebidos com ovos pela população e mandados em “ônibus até a divisa de qualquer outro estado, que deveria fazer o mesmo”. Como bom tudólogo, o jornalista encerra sua coluna com uma dica para essa gente: “Vão trabalhar, senhores, aqui já estamos ocupados e produzindo para o Brasil”.

Desserviço
Esclarecimento público –
A coluna de Cacau Menezes prestou um desserviço ao esclarecimento público de um assunto sério: a existência de células neonazistas em Santa Catarina. Não é de hoje, nem de ontem, que a imprensa, o Ministério Público e a Polícia Civil chamam a atenção para esse fato.

Por meio do trabalho pioneiro da antropóloga Adriana Abreu Magalhães Dias, falecida em 2023, foram identificadas 530 células neonazistas espalhadas, principalmente, pelo Estado de São Paulo e do sul do País. Dados recentes, divulgados pela revista Piauí, atualizaram o número para 1.117, dos quais 320 em Santa Catarina.

Ainda em 2023, ocorreram manifestações neonazistas que resultaram na prisão, pela Polícia Civil, de estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e que resultou no seminário Enfrentamento ao Discurso de Ódio em Grupos Neonazistas, organizado pelo Ministério Público Federal (MPF), em Santa Catarina, sendo realizado em 19 de setembro de 2023. O evento contou com o apoio do movimento “Humaniza Santa Catarina” e Apufsc.

Extremistas
Problema maior
– Portanto, não se trata de queimar o filme do Estado, dando a entender que Santa Catarina é um reduto de neonazistas e demais tipos de extremistas. Extremismos políticos e intolerância não são problemas essencialmente catarinenses, mas nacionais.

Como exaustivamente escreveram inúmeros homens e mulheres que se propuseram a explicar o Brasil, trata-se de uma sociedade construída historicamente na desigualdade, na intolerância, no preconceito e na violência.

A existência de células neonazistas em Santa Catarina é parte de um problema maior, porém que tem de ser admitido e tratado publicamente, independente se Cacau Menezes acha isso ruim.

Desleixo
Partido –
Até o final da década de 1930, o Landesgruppe Brasilien foi a maior seção do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) fora da Alemanha, com um total de 2.903 filiados. Um número minúsculo que não representou nem 4% do total de alemães radicados no Brasil, uma vez que somente alemães “raízes” podiam ser filiados ao NSDAP.

Talvez, por não termos uma memória social traumática das experiências nazista e fascista no Brasil, o neonazismo seja um assunto tratado com tanto desleixo, afinal, estamos “produzindo” para o Brasil.

Mas, se desejamos um país melhor, mais rico, justo e democrático, temos de enfrentar todos os seus problemas, entre os quais a incidência de células neonazistas em Santa Catarina.

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