UM SENTIMENTO DE DESBUSSOLAMENTO VEM GANHANDO CORPO EVIDENTE NAS DIMENSÕES PSICOLÓGICAS DOS INDIVÍDUOS QUE PADECEM PSIQUICAMENTE
Por Mauro Cesar Telesphoros Stiegler, psicólogo clínico
“E foram julgados insanos os que dançavam, por aqueles que não conheciam os passos da dança”
(Nietzsche)
A saúde mental nas suas múltiplas configurações ganha destaque no universo contemporâneo, especialmente no que se refere aos sofrimentos psíquicos. Estes, por certo, desafiadores; um sentimento de desbussolamento vem ganhando corpo evidente nas dimensões psicológicas dos indivíduos que padecem psiquicamente, bem como nos profissionais que abraçam o ofício de serem cuidadores da saúde mental do outro.
Mesmo diante da avalanche de casos de depressões severas, acompanhadas de tentativas e mesmo de suicídios consumados, sem esquecer dos transtornos severos de ansiedade e ainda lembrando que nada disso é novo no quadro social, pode-se por certo afirmar que a perda de identidade e o abandono da essência individual constituem causadores dos novos e frágeis alicerces das estruturas psíquicas dos indivíduos da atualidade.
Tentativas de metamorfoses
Há muito pouco espaço para ser e sobram dimensões e oportunidades para se enquadrar nas demandas do ter e com isso, poder parecer e até aparecer.
Alugamos inconscientemente e até conscientemente o sagrado que existe em nós para propostas baratas e efêmeras e nos lançamos em tentativas de metamorfoses na maioria delas malogradas com o intuito de nos alocar em espações e movimentos que não nos pertencem.
Compram-se ideias e formatos estereotipados que nada têm de conexão com nosso ser e bem cedo com isso experimenta-se sede e fome daquilo que realmente somos e nossa alma aspira. Nada obstante teima-se; quer-se a todo custo x profissão ou ser aceito em determinado clã ou cultura mesmo que isso nos revele inaptos e deselegantes nos terrenos alheios e indigestos à nossa personalidade. Isso, claro, vale para o campo das profissões, das relações, das religiões e infinitos “ões’”que estão por aí.
Sintomas gritantes
Os sintomas gritantes na saúde mental atual, são agonias profundas da alma pedindo retorno ao essencial (que, como disse Antonie de Saint Exupéry, é na maioria das vezes invisível aos olhos), isso em qualquer e todos os desdobramentos humanos.
Claro é que o meio social e profissional reclama adaptabilidade e graus de contingência perfeitamente entendíveis.
A saúde mental que agoniza pede, a priori, um olhar amoroso e perceptível para dentro, para depois empreender a travessia no deserto de si mesmo que talvez foi edificado por um divórcio de si mesmo e agora pede reconciliação, e, mais que isso a invenção de um novo e virgem jeito de se viver.
Quebrar padrões
Recuperar saúde no âmbito psíquico e das emoções confere romper ou quebrar padrões que já estão faz tempo com a data de validade vencida, quando não, apodrecidos.
Existencialmente, seria autorizar-se e tornar-se virgem para a vida que queiramos realmente viver; ouvir a alma e ser fiel a ela; inventar espaços, formas e programas de vida que signifiquem prazer e liberdade, claro, com responsabilidade.
Pense em dançar aquele ritmo existencial que faz você rir e chorar de contentamento e deixe o julgamento dos amorfos e mofados urrarem no vazio deles mesmos e siga, rodopiando e sapateando virginalmente e como queira, a tua música.
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