Na sociedade temos muitas fomes, não apenas de comida, mas de felicidade, qualidade de vida, sucesso, etc
Por Mariano Soltys,
filósofo e professor
“O Poço 2” era um filme aguardado, ainda mais pela impressão que ficou do primeiro. Deste modo, nada deve o segundo filme, sendo ainda que partilha da história, além de a protagonista, Perempuan, acaba por desvendar a “matrix” do poço, sua dinâmica e inteligentsia, além de que há fatores que ao longo das cenas nos levam a filosofias como marxismo, anarquismo, capitalismo, cientologia, dantismo, messianismo, panoptismo, entre tantos outros pontos de vista, que em momento ou outro aparecem para levar a quem assiste a embrulhar o estômago e o cérebro.
“O Poço 2” começa com o mesmo esquema do primeiro, as pessoas estão em diversos andares, em torno de 333, e assim os de cima têm mais comida, ficando os restos ou nada para os de baixo. Nada mais óbvio que as classes sociais, de cima os burgueses, e de baixo os proletários. Isso revela um marxismo ou comunismo já de início, no filme.
“Ungido”
Prisão – Ainda vem um “ungido”, que parece revelar um messianismo, não muito bom, uma vez seu grupo mata as pessoas ou as amputa mãos, quando estas descumprem as leis do poço. Para sentir um pouco do inferno de Dante, os 333 andares podem ser somados, 3+3+3, sendo 9, os 9 círculos do inferno, assim as pessoas sofrendo muito no poço, sem saída ou esperança, condenadas por seus pecados ou crimes.
Falando em prisão e crime, leva a pensar no filósofo pós-moderno, Michel Foucault, e seu Vigiar e Punir, com o modelo de panóptico, uma construção onde tudo está sendo vigiado, e isso se revela verdade, quando as pessoas vêm limpar os andares, numa espécie de reset.
Anarquismo
Denúncia social – Já o anarquismo fica para as pessoas que ignoram o poder e as leis, pagando com a vida ou mãos amputadas. No mais o filme mostra em certa cena a palavra revolução, e noutra as pessoas formando um grupo de resistência e tendo em mãos foices e machados, mais uma vez a referência ao marxismo e a comunismo.
Mas muitas outras ideias podem surgir com o filme, como a ideia de Justiça em Dagin Baba, pois este é cego e tem olhos vendados, semelhante ao símbolo de justiça ou deusa Têmis, presente em escritórios de advocacia. Também parece uma crítica a ideia de Salvador, presente em muitas religiões.
Na verdade, o “Poço 2” deveria se chamar de “Zero”, uma vez que se passaria 1 ano antes do primeiro “Poço”, e por isso se explica algumas pessoas que morreram no primeiro, estarem vivas no segundo. Mas no geral o filme é uma grande denúncia social, das classes sociais e da diferença de quem está por cima na sociedade, e quem está por baixo, idéia semelhante ao de filme Parasita.
Motivo de condenação
Lembra – O filme não explica o primeiro e nem se explica, ficando a levar muitas dúvidas de quem assiste, não sendo um mero entretenimento de terror. O filme lembra “O Cubo”, apesar das pessoas saberem de seu passado, além de motivo da condenação.
Na sociedade temos muitas fomes, e nem todos podem suprir a todas, não sendo apenas de comida, mas de felicidade, qualidade de vida, sucesso, etc. Logo, “O Poço 2” revela um pouco de todos nós.
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