eu não quero nem tentar descrever a grandiosidade desse cara
Por Guillerme Slominsky

eu não quero nem tentar descrever a grandiosidade desse cara, apesar de seus vacilos… sim, interpretado com olhos contemporâneos, pode ser que precisasse de alguma terapia. eu conheci ele na seguinte passagem.
“ó, mar salgado, quanto do teu sal / são lágrimas de portugal!
por te cruzarmos, quantas mães choraram, / quantos filhos em vão rezaram!
quantas noivas ficaram por casar / para que fosses nosso, ó mar!”
um texto roubado?
ague – no auge dos meus dezenove anos fiquei extasiado com o rebuliço que essas palavras fazem em quem as degusta. “quanto do teu sal são lágrimas de portugal!” é uma das frases mais geniais que eu já tinha lido. então fui atrás de mais! encontrei “tabacaria”, uma das maiores obras da língua portuguesa (digo isso porque é enorme, cheia de palavras) e fiquei chocado ao descobrir que nem foi ele mesmo quem escreveu! aos pés do texto vinha escrito: “poesias de álvaro de campos”. fiquei ainda mais em choque ao saber do que, na verdade, se tratava.
“heterônimos”
palavrinha comprida – eu sei, palavrinha comprida assusta um pouco, mas calma, pra aqueles que não estudam esse tipo de coisa, segura na mãozinha que a gente vai descobrindo junto: essa palavra significa “vários nomes” e é um recurso que alguns autores usam, às vezes. hoje mesmo conversei com um dono de um grande restaurante que me contou que teve que criar um estabelecimento menor para competir consigo mesmo.
ele tinha muita demanda nas entregas e a demora fazia com que houvesse reclamações, a ideia dele foi criar um outro negócio, com foco na mesma área, mas não exatamente igual. e assim alguns autores também gostavam e gostam de criar outras personas para competirem entre si.
é uma batalha de pensamentos que acontece dentro de uma mente, e se a gente é sortudo essa pessoa publica isso em algum lugar e vira um pay per view de rinha de cérebro. na época ele não publicou, mas criou uma história para cada um deles (com data de nascimento, signo, etc.) e escreveu-lhes cartas!
as pessoas…
célebres senhores – os célebres senhores jerónimo pizarro e patricio ferrari percorreram mais de trinta mil folhas escritas por nandinho e foram capazes de diferenciar mais de 136 (cento e trinta e seis) autores fictícios com que ele assinou diferentes obras. essa junção de tantos textos se chama “136 pessoas de pessoa”, e está disponível para compra na amazon.
“o poeta é um fingidor / finge tão completamente
que chega a fingir que é dor / a dor que deveras sente”
esse é um fragmento de “isto”, um texto assinado por ele mesmo, o fingidor! tenho muito mais a falar sobre isso, mas, por enquanto…
até a próxima!
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