MARIANO SOLTYS (FILOSOFIA NO SUL): A DEPORTAÇÃO DOS TRABALHADORES

FILOSOFIA DO SUL SÃO BENTO DO SUL

O mais irônico é que esses mesmos imigrantes ilegais são uma peça-chave na economia americana

Por Mariano Soltys*,
filósofo e professor

A hipocrisia da deportação em tempos de livre mercado. Nada mais justo do que defender as fronteiras quando se trata de pessoas pobres, não é mesmo? O país que construiu sua economia sobre a ideia de livre mercado, que exporta sua cultura, sua política e seus produtos para cada canto do planeta, de repente, quando o assunto é gente, decide que fronteiras importam. Ah, o capitalismo americano, sempre tão seletivo em sua lógica!

Dizem-nos que a globalização trouxe benefícios imensos: redução de custos, aumento da eficiência, acesso a bens e serviços mais baratos. Empresas americanas podem atravessar oceanos para explorar mão de obra barata na Ásia, podem instalar fábricas onde os salários são mais baixos e as regulações mais brandas, podem sugar os recursos naturais de países em desenvolvimento para alimentar sua máquina de consumo. Mas quando um trabalhador desesperado cruza uma linha imaginária para tentar vender sua força de trabalho por um salário miserável, aí, de repente, o livre mercado não vale mais.

Peça-chave
“Ameaça”
–O mais irônico é que esses mesmos imigrantes ilegais são uma peça-chave na economia americana. Eles constroem casas, colhem alimentos, limpam escritórios, cuidam das crianças dos que defendem sua deportação. Trabalham nos bastidores do “sonho americano” por um salário que nenhum cidadão aceitaria. Mas, claro, quando o assunto é reconhecer seu papel, o discurso muda: são invasores, criminosos, uma ameaça à soberania nacional!

E quem lucra com isso? Empresas que exploram essa mão de obra sem direitos, políticos que vendem discursos patrióticos vazios para ganhar votos, corporações que se aproveitam do medo e da insegurança para vender muros, câmeras de vigilância e patrulhas de fronteira cada vez mais militarizadas. O livre mercado é maravilhoso, desde que funcione apenas para os mais ricos do mundo.

Hipocrisia
Valor –
No fim, a hipocrisia da deportação não está em proteger uma nação, mas em fingir que as regras do capitalismo são diferentes para pessoas e para corporações. O dinheiro pode circular livremente, mas os trabalhadores que o produzem não. Afinal, o verdadeiro valor de um ser humano, no mundo do capital, só existe quando ele pode ser explorado no sonho americano.

*Com colaboração de Thiago Morais

Foto: Casa Branca/Divulgação

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