Embora suas origens estejam situadas no distante Medievo, é um tema do presente e, tal como as demais formas de ódio, deve ser levado a sério
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador
Desde que as Forças de Defesa de Israel (IDF) iniciaram uma resposta militar contra a ofensiva do Hamas, em outubro de 2023, são recorrentes na Europa e nos Estados Unidos manifestações pró-Gaza, nas quais o governo israelense é acusado de praticar uma política genocida sob o argumento de estar se defendendo de uma organização terrorista.
Em abril, ocorreram manifestações em diversos campi universitários espalhados pelos Estados Unidos, como por exemplo, na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. No auge das manifestações, a polícia interveio no campus e prendeu diversos manifestantes. A situação foi agravada com a convocação da professora Minouche Shafik, presidente da universidade, para dar esclarecimentos sobre manifestações antissemitas ocorridas durante os protestos.
Foge ao escopo deste texto julgar quem está com a razão em toda essa história. Pois sua compreensão deve levar em consideração vários fatores, que possuem naturezas diversas e que vão além dos acontecimentos imediatos narrados pela imprensa. Contudo, desejo neste artigo abordar o conceito de antissemitismo, do qual os protestos contra a guerra na Palestina são acusados.
O que essa palavra significa?
Preconceito – Antissemitismo pode ser definido como o ódio aos judeus e a tudo o que está relacionado a eles, como por exemplo, seu patrimônio cultural. Trata-se de uma forma extrema de preconceito, que envolve formas de violência física e simbólica. No Brasil, por meio da Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989, as práticas e as representações antissemitas são entendidas como formas de discriminação racial, portanto, são criminalizadas.
O ódio aos judeus foi o que motivou o Holocausto (ou Shoah), o extermínio de aproximadamente 6 milhões de judeus europeus, entre 1933 e 1945, pelos alemães e seus aliados, especialmente, de 1941 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi implementada a solução final do problema judaico.
Porém, as origens do antissemitismo são mais remotas e estão situadas na Idade Média, na Cristandade. Acusados pelos cristãos de deicidas, as comunidades judaicas foram excluídas e confinadas aos guetos ou judiarias (em espanhol, juderías), bairros das antigas cidades medievais onde deveriam residir. Volta e meia, por diferentes razões, essas comunidades eram expulsas ou massacradas por meio dos pogroms.
Nazismo
Inquisição – A perseguição continuou na Idade Moderna, sendo os judeus um dos alvos da Inquisição, conforme já foi exaustivamente pesquisado por historiadores, a exemplo de Anita Novinsky (1922-2021), que estudou as visitações do Santo Ofício e os cristãos novos na América Portuguesa.
Até o século XIX, as motivações para tanto ódio eram religiosas. Porém, com a emergência do conceito de raça, os judeus foram considerados uma raça, não mais uma minoria religiosa. Como explica Hannah Arendt, a partir do final dos oitocentos, surgiu uma nova forma de discriminação contra os judeus baseada em critérios raciais. Foi esse antissemitismo que originou a destruição dos judeus europeus durante o Nazismo e a Segunda Guerra Mundial.
CNDH
Direitos humanos – No presente, o antissemitismo tem no neonazismo uma das suas motivações, que se alastra pelo mundo através da internet e que afeta o Brasil, conforme relata a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH). Embora suas origens estejam situadas no distante Medievo, o antissemitismo é um tema do presente e, tal como as demais formas de ódio, deve ser levado a sério.
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