O filme nos lembra que a luta pela memória e pela justiça não é apenas uma questão do passado
Por Diego Andrade, professor

O filme “Ainda Estou Aqui” é uma obra que mergulha profundamente no contexto histórico do Brasil durante a Ditadura Militar (1964-1985), utilizando-se de uma narrativa sensível e crítica para expor as feridas deixadas por esse período sombrio da história do País.
O longa-metragem, baseado em fatos reais, retrata a luta de uma mãe em busca de justiça pelo desaparecimento de seu filho, vítima da repressão do regime militar. Ao fazer isso, o filme não apenas humaniza as vítimas da ditadura, mas também expõe as estruturas de poder que perpetuaram violências e silenciamentos.
Contexto histórico
Censura e perseguição – Para compreender a relevância de “Ainda Estou Aqui”, é essencial revisitar o contexto histórico em que a trama se insere. O golpe militar de 1964 instaurou no Brasil um regime autoritário que durou 21 anos, marcado por censura, perseguição política, tortura e assassinatos de opositores.
Sob a justificativa de combater o “comunismo” e “restabelecer a ordem”, os militares e seus apoiadores civis implementaram um sistema de controle que cerceou liberdades individuais e coletivas, suprimindo qualquer forma de dissidência.
Presas, torturadas e mortas
Desaparecidos – Durante esse período, milhares de pessoas foram presas, torturadas e mortas. Muitas delas simplesmente desapareceram, sem deixar rastros, em ações coordenadas pelo Estado. Famílias inteiras foram destruídas, e o medo se tornou uma constante na vida dos brasileiros. O filme captura essa atmosfera de terror ao narrar a história de uma mãe que, mesmo décadas após o fim da ditadura, continua buscando respostas sobre o paradeiro de seu filho.
“Reconciliação nacional”
Vítimas – Um dos aspectos mais contundentes do filme é a forma como ele retrata a impunidade e o silenciamento das vítimas da ditadura. Apesar de o Brasil ter iniciado um processo de redemocratização na década de 1980, muitas das estruturas repressivas do regime militar permaneceram intocadas.
A Lei da Anistia, de 1979, por exemplo, foi um marco controverso que garantiu a impunidade para agentes do Estado envolvidos em crimes de tortura e assassinato, sob o argumento de “reconciliação nacional”.
Consequências
Violência estatal – O filme também serve como um alerta sobre os reflexos da ditadura no Brasil contemporâneo. Apesar de o regime militar ter terminado há quase quatro décadas, suas consequências ainda são sentidas na sociedade brasileira. A cultura do autoritarismo, a desvalorização dos direitos humanos e a normalização da violência estatal são heranças diretas desse período.
Memória
Justiça – “Ainda Estou Aqui” nos lembra que a luta pela memória e pela justiça não é apenas uma questão do passado, mas uma necessidade urgente no presente. Em um momento em que discursos que relativizam ou até mesmo glorificam a ditadura ganham espaço na esfera pública, o filme assume um papel político crucial ao denunciar os horrores do regime militar e ao reafirmar a importância de nunca esquecer. O Oscar foi muito mais que merecido. Viva o cinema nacional!
WhatsApp – O grupo de WhatsApp do Jornal Edição Digital pode ser acessado clicando aqui.