Considero-me uma pessoa realista na forma com a qual enxergo e interpreto o mundo ao meu redor: 2023 foi um ano um tanto azedo
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador
Este é o meu último artigo de 2023. Eu o escrevi na tarde de ontem, dia 28, enquanto meus filhos brincavam em casa e minha esposa tirava uma soneca. Inicialmente, pensei em abordar algum tema de história voltado aos calendários e aos finais de ano. Mas como se trata da minha primeira experiência de escrita regular para uma coluna, pensei em expor minhas impressões sobre 2023 e meus desejos para 2024.
Considero-me uma pessoa realista na forma com a qual enxergo e interpreto o mundo ao meu redor. 2023 foi um ano um tanto azedo. No plano internacional, ele foi iniciado com a continuidade da guerra na Ucrânia, que ao longo dos meses perdeu visibilidade nos noticiários, especialmente a partir do segundo semestre, quando Israel, em resposta aos ataques terroristas do Hamas, iniciou uma guerra violenta contra a Faixa de Gaza que não tem previsão de término no curto prazo. Em se tratando de mídia, essa nova “fase” do histórico conflito israelo-palestino renovou a demanda por sangue na imprensa e nas redes sociais. Mas o pau continua a comer solto na Síria e Ucrânia, por exemplo.
Micos na frente de quartéis
Banheiro do Xandão – No Brasil, 2023 começou com a insistência das pessoas em pagarem micos na frente de quartéis do Exército bradando “S.O.S Forças Armadas”. Diferente de muitos, não achei isso engraçado e, muito menos, passei pela frente dessas pessoas gritando impropérios contra elas. Achei isso tudo frustrante e triste, pois aprendemos nada com 21 anos de Regime Militar e quase 40 anos de redemocratização.
Mas, como tudo pode piorar, rolou aquele tremendo arrastão promovido pela extrema-direita no Distrito Federal, no comecinho de janeiro. Depredação do patrimônio histórico e cenas de vulgaridade, a exemplo da senhorinha aqui de Santa Catarina que afirmou em alto e bom tom que “cagou” no banheiro do Xandão.
Bananas e picanhas
Venezuela?! – Paralelamente, tivemos a profecia que o Brasil, sob o governo Lula, se tornaria uma Venezuela em questão de meses. No entanto, a venezuelização não ocorreu e, como contatou o jornalista Alexandre Busch, em sua coluna na Deutsche Welle, o país cresceu 3% e a inflação acabou ficando dentro da meta estabelecida pelo Banco Central, ao mesmo tempo em que o desemprego atingiu seu índice mais baixo desde 2014.
Mas alguém realmente acreditou que nos tornaríamos uma Venezuela? Entendam, não somos uma república de bananas, embora sejamos governados por bananas. Contudo, encheram a minha paciência os lulistas de plantão postando no Facebook suas picanhas de mais de um quilo. O bem-estar dos brasileiros não se resume somente ao churras no final de semana. Nesse sentido, bolsonaristas e lulistas se mereceram.
Menos disparates
Fanatismo – Mas quais são os meus desejos para 2024? Gostaria de um ano mais suave para nós, brasileiros, com menos disparates, egoísmos, etarismos e tudo quanto é “ismos” que remete ao fanatismo e ao preconceito.
Que, para além das fronteiras nacionais, pensássemos em algo comum, não aquele chavão de miss universo, “a paz mundial”, mas pautas em que todos ganharão. Enfim, que entendêssemos que somos “parte de uma comunidade de luta sempre em expansão”, tal como afirmou a filósofa Angela Davis.
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