A invasão de 8 de janeiro de 2023 foi apenas a face mais visível de um projeto autoritário
Por Diego Andrade, professor

O futuro julgamento de Jair Bolsonaro e dos militares envolvidos nas articulações golpistas após as eleições de 2022 representa um dos momentos mais decisivos da história recente do Brasil. Não se trata apenas de um processo jurídico, mas de um verdadeiro teste para a democracia.
Desde a redemocratização, em 1985, o País enfrentou crises políticas de diferentes magnitudes, porém nenhuma tão grave quanto a tentativa de ruptura institucional gestada no período pós-eleitoral.
A invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 foi apenas a face mais visível de um projeto autoritário que, segundo as investigações, contou com a participação direta de militares e do próprio ex-presidente.
Responsabilize-se!
Lição – Responsabilizar os envolvidos é fundamental não apenas para fazer justiça, mas também para romper com a tradição de impunidade que marca a relação entre as Forças Armadas e a política brasileira. Ao longo da história, episódios de autoritarismo, como o golpe de 1964 e a repressão que se seguiu, ficaram sem a devida punição.
Repetir esse erro significaria manter aberta a porta para novas aventuras golpistas. O julgamento de Bolsonaro e dos militares golpistas pode se transformar em uma lição pedagógica para toda a sociedade: a democracia é um valor inegociável, e quem atenta contra ela deve ser responsabilizado.
STF e PGR
Instituições – As instituições brasileiras, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), terão de conduzir esse processo com firmeza e serenidade. Garantir o direito de defesa dos acusados é essencial, mas a resposta precisa ser inequívoca: ninguém está acima da lei. Mais do que punir indivíduos, o que está em jogo é a credibilidade do Estado de Direito e a confiança da população no sistema democrático.
Consequências
Políticas e sociais – As consequências políticas e sociais desse julgamento serão profundas. Uma eventual condenação poderá enfraquecer setores que ainda sonham com a ruptura institucional e fortalecer o pacto democrático que sustenta a vida republicana.
Além disso, servirá como um alerta para futuras lideranças: o poder conquistado pelo voto não pode ser usado contra a própria democracia. O Brasil precisa deixar claro que eleições se ganham e se perdem nas urnas, e não nas conspirações de gabinete ou nos quartéis.
Ciclo
Patrimônio – O julgamento de Bolsonaro e dos militares envolvidos no golpe não diz respeito apenas ao passado recente, mas ao futuro do País. A forma como a sociedade e suas instituições reagirem a esse episódio definirá a qualidade de nossa democracia nas próximas décadas.
Se houver firmeza e coragem, o Brasil terá a chance de consolidar uma cultura política baseada no respeito às regras do jogo democrático, rompendo com o ciclo de autoritarismo e impunidade que tantas vezes marcou nossa trajetória.
Trata-se, portanto, de um julgamento histórico: mais do que punir os culpados, ele servirá para reafirmar que a democracia brasileira é, e precisa continuar sendo, um patrimônio coletivo, construído com luta e que não pode ser colocado em risco por ambições autoritárias.
Foto Joedson Alves/Agência Brasil
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