DIEGO ANDRADE (POLITICANDO): O QUE ESPERAR DO PAPADO DE LEÃO XIV?

POLITICANDO SÃO BENTO DO SUL

Em tempos de profundas transformações sociais e desafios éticos complexos, a Igreja está diante de uma encruzilhada

Por Diego Andrade, professor

A eleição do Papa Leão XIV marca o início de uma nova etapa para a Igreja Católica. Seu nome de escolha evocando Leão XIII, o papa da encíclica Rerum Novarum e do compromisso com a justiça social, já indica que há uma intenção simbólica de continuidade com uma tradição reformadora.

Em tempos de profundas transformações sociais e desafios éticos complexos, a Igreja está diante de uma encruzilhada: ou reafirma seu compromisso com a dignidade humana, os pobres, os migrantes e o cuidado com a criação, ou se recolhe às sombras de um moralismo que a isola do mundo real.

Abertura histórica
Pautas sociais –
O papado de Francisco foi marcado por uma abertura histórica. Embora mantivesse posições tradicionais em algumas áreas, foi firme em pautas sociais como a denúncia das desigualdades econômicas, a crítica ao capitalismo predatório, a defesa dos refugiados e imigrantes, a necessidade de preservar o meio ambiente (com a Laudato Si’) e uma nova abordagem pastoral com relação a pessoas LGBTQIA+ e divorciados. Ainda que enfrentando forte resistência de setores conservadores, seu legado abriu espaços para uma Igreja mais dialogante e menos autoritária.

Herança
Expectativas –
Leão XIV herda esse cenário com grandes expectativas. Espera-se dele não apenas a manutenção do espírito de escuta e diálogo que caracterizou seu antecessor, mas também a coragem para avançar em reformas internas. A sinodalidade, por exemplo, é um caminho que precisa deixar de ser apenas conceito e se tornar prática efetiva em todas as esferas da Igreja. O papel das mulheres, a superação do clericalismo e a maior participação das comunidades na tomada de decisões são urgências que não podem ser adiadas.

Crises
Feridas –
Outro ponto fundamental é o enfrentamento das crises que ainda assolam a instituição, como os escândalos de abuso e a falta de transparência em algumas estruturas de poder. A credibilidade da Igreja está diretamente ligada à sua disposição em encarar essas feridas com verdade e justiça.

Voz moral
Ódio –
No plano global, o novo papa será chamado a agir como voz moral diante das guerras, da crise climática e da exclusão social. Em um mundo marcado pelo avanço de discursos de ódio, xenofobia, autoritarismo e intolerância religiosa, Leão XIV tem a oportunidade de ser um sinal profético, reafirmando que a fé cristã deve caminhar de mãos dadas com os direitos humanos e a justiça social.

Pautas progressistas
Refúgio –
Manter e aprofundar as pautas progressistas não é uma concessão ao “espírito do tempo”, mas uma resposta fiel ao Evangelho de Jesus, que colocou os pobres no centro de sua mensagem. A Igreja não pode se tornar um refúgio para os que temem a mudança, mas deve ser, como dizia Dom Hélder Câmara, uma “Igreja que vai com o povo, mesmo que seja preciso ir contra a corrente”.

Esperança
Gestos concretos –
O papado de Leão XIV começa com esperança. Cabe agora a ele demonstrar que essa esperança será sustentada por gestos concretos, escuta verdadeira e coragem evangélica. O futuro da Igreja depende disso e o mundo também.

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