IMPORTA CONHECER TAIS MORADORES, SUBPERSONALIDADES
Por Mauro Cesar Telesphoros Stiegler, psicólogo clínico
Neste complexo habitacional em que inúmeros “eus” residem e existem, importa conhecer tais moradores, subpersonalidades, que vivem em nosso eu profundo, muitas vezes a puxar o tapete de nossas construções, projetos e desejos, e, pior, até boa parte da nossa existência imaginamos serem estes “eus”, espécies de anjos da guarda, e na verdade o são, mas anjos que muitas vezes castram, tolhem, reprimem e amedrontam, tudo para não passarem por momentos traumáticos de outrora; momentos que, foram de certa forma, os criadores das nossas subpersonalidades traumáticas.
O autoconhecimento é essencial para o autodomínio e a autossuperação; um primeiro passo, mas fundamental. Há configurações psíquicas e emocionais em nós, em sua maioria inconscientes, que vão na contramão dos nossos sonhos ou projetos de vida.
Se os deixamos no controle, sabotam os processos de crescimento e realização. E isso tudo, com ares de normalidade e proteção. Quando isso acontece, construímos com uma mão e destruímos com a outra, relacionamentos, profissão, amizades, empreendimentos.
CONTEXTOS – Nesse momento, o mito de Sísifo, que eternamente rola a grande pedra até o pico da montanha, passa a operar em nós, sem que muitas vezes nos apercebamos.
Frequentemente a vontade diz “Eu quero”, os contextos traumáticos e não acolhidos fazem procrastinar, distraindo do foco, não cuidando, não tomando decisões e iniciativas ou mesmo agindo de forma a contrariar o que se diz buscar.
Em partes, isso acontece também como uma defesa quando os desejos não refletem as necessidades verdadeiras da alma – e, nesse caso, é preciso readequar propósitos em sintonia com a essência, com a alma psicologicamente falando. Da mesma forma não ouvir o desejo real e saudável, implica também um certo divórcio com a alma e faz com que sem muitas vezes perceber, fiquemos estacionados.
AMORES OCULTOS – Às vezes, essa contradição expressa a falta de comprometimento com as necessidades reais, pois isso implicaria em autorresponsabilização no processo e esforço de construção do próprio caminho assumindo consequências das escolhas feitas.
De toda maneira, os aspectos sombrios e os amores ocultos de nossa intimidade precisam ser conhecidos, acolhidos e ressignificados, para que a autoconsciência fortaleça o senso de pertencimento a si mesmo, o autodomínio, e promova os esforços e conquistas, em todas as áreas da existência.
VERSÕES – E você, tem mergulhado em si mesma com coragem para conhecer e acolher todas as versões que te habitam? Não vamos esquecer: as versões podem ser traumas, saudades não resolvidas, perdas amorosas, fragilidades não confessadas a nós mesmo.
Todas essas versões requerem acolhimento, atenção, dialogo interno e com isso tratamento, principalmente aquele que vem da alma de si mesma.
Saber acolher significa talvez entender a jornada existencial como uma longa caminhada na floresta, com bosques, lagos e cascatas belíssimas, mas também com pântanos, nevoeiros e sombras…
Porém, quem quiser de fato fazer uma fornada significativa e não só passar pela vida, precisa viver todos esses lugares com a intensidade e amor que se pede.
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