“A primeira coisa observada foi a emissão de um intenso raio de luz”
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador

Há 80 anos, às 5h29 da manhã de 16 de agosto de 1945, uma equipe pertencente ao Projeto Manhattan, composta por cientistas e militares, conduziu o primeiro teste nuclear da história, o Experimento Trinity.
Trata-se, da detonação da primeira bomba atômica, um artefato carregado de plutônio e que foi colocado no alto de uma torre localizada em Alamogordo, no Novo México. O evento foi o ponto alto de uma corrida pela bomba, cujas origens retomas estão situadas no começo do século XX, com o avanço do que ficou conhecido como “física atômica”.
O regime nazista e a Segunda Guerra Mundial iniciaram uma corrida contra a tempo entre as potências da época, sendo protagonizada pelos Estados Unidos e Alemanha, cujas comunidades científicas eram únicas.
Projetos de pesquisa
Pearl Harbour – Durante certo tempo, pareceu que os alemães venceriam a disputa, especialmente, pelas dificuldades que britânicos e franceses tiveram em desenvolver seus respectivos projetos de pesquisa nuclear. Até hoje, o trabalho científico com energia atômica necessita de grandes capitais científicos e recursos econômicos que poucos países possuem.
O governo dos Estados Unidos somente entrou para valer na corrida no final de 1941, quando abandonou sua política de neutralidade e ingressou na guerra após o ataque contra sua base naval em Pearl Harbour, em 7 de dezembro. Até 16 de julho de 1945, houve um esforço científico, econômico e militar que somente os americanos teriam condições de bancar, cujos resultados deram origem à era nuclear, nas suas grandezas e misérias.
Sol
Brilho – O Sol nasceu mais cedo em Alamogordo. “A primeira coisa observada foi a emissão de um intenso raio de luz, forte demais para ser olhado diretamente; subitamente, era como se o sol tivesse nascido”, descrevem José Augusto Dias Júnior e Rafael Roubicek, no livro “O Brilho de Mil Sóis”.
Em seguida, na medida em que a claridade diminuiu, chegou até o grupo de observadores o rugido da explosão, além de ser visível a formação de uma bola de fogo incandescente, que ganhou forma de um cogumelo que se elevava para o céu.
Foi naquele momento em que o líder do experimento, o físico Julius Robert Oppenheimer (1904-1967) lembrou de alguns versos do poema hindu Bhagavad-Gita: “Agora, eu me tornei a morte, o destruidor de mundos”.
Rendição incondicional
Tragédia – Semanas após o teste, em 6 de agosto, ocorreu o primeiro ataque nuclear contra o Japão, sobre a cidade de Hiroshima. Três dias depois, contra Nagasaki. Quase um mês mais tarde, no dia 2 de setembro de 1945, o governo japonês assinou sua rendição incondicional, encerrando definitivamente a Segunda Guerra Mundial.
Uma tragédia que colocou o mundo em alerta contra um novo “destruidor de mundos”, que nas cinco décadas após o término do conflito assombrou a humanidade com um apocalipse nuclear.
O desenvolvimento da energia atômica e da radioatividade, como, por exemplo, no tratamento do câncer, abriram uma janela de oportunidade para a ciência e a tecnologia. Contudo, também abriu o caminho para novas disputas e ameaças contra a própria existência humana, tornando os versos recordados por Oppenheimer tão atuais.
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