GUILLERME SLOMINSKY (“FRAGUIMENTOS”): JÁ OUVIR FALAR DE PAULO LEMINSKI?

"FRAGUIMENTOS" SÃO BENTO DO SUL

o cara que deu nome à famosa pedreira de curitiba foi simplesmente um dos maiores poetas brasileiros contemporâneos

Por Guillerme Slominsky


sim, o cara que deu nome à famosa pedreira de curitiba foi simplesmente um dos maiores poetas brasileiros contemporâneos e você aí moscando.

me peguei pensando no melhor jeito de apresentar esse mano, mas acho que ele tem que vir tipo um tapa na cara mesmo, daqueles que dá com as costas da mão, uma bofetada que pegue em cheio mas não doa, só atordoe. então vou contar o causo que me fez querer conhecer mais dele, lá por 2017 ou 2018.

redação chatíssima
muro –
eis que meu caro paulinho estava fazendo seu trabalho como publicitário numa redação chatíssima, um prédio quadrado e cinza — muitos leitores podem se identificar com isso — e queriam que ele passasse o dia inteiro sentado — e com isso, também — coisa que pra ele beirava o impossível. aquela mente inquieta precisava de movimentação pra trabalhar e conseguir produzir mais, e mesmo assim cobravam imobilidade, que pensasse parado, etc.

acontece que bem em frente desse prédio tinha um muro, nas palavras dele: “um tesão de muro”, que fazia ele se coçar de vontade de escrever algo. então certo dia ele pichou: “SENTADO NÃO TEM SENTIDO”.


busca
resolução –
ele parecia estar sempre em busca de um sentido, e com seus ensaios ele chegava perto mas não mirava na resolução, sabia que o sentido não existe nas coisas mas sim no próprio ato de ser buscado. “só buscar o sentido faz, realmente, sentido.


paulinho veio da quebrada, e a quebrada nunca saiu dele, e é por isso que seus poemas (principalmente os haicais) são idealmente degustados em um bom e velho muro ou parede branca. aqui vou tentar — e só tentar — trazer uma breve degustação desse gênio, breve porque sei que não vai ser a última vez que vou falar dele aqui, então, a partir de agora, apenas palavras dele:

a chuva vem de cima
correm
como se viesse atrás

amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o

pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno

tudo dito,
nada feito,
fito e deito

essa vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem

o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado

leia mais
próxima
leia mais aqui. até a próxima.

Foto João Urban/Divulgação