NO FUNDO, É APRENDER AQUELE LANCE MEIO ROCKY BALBOA
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador
Há pouco mais de dois meses, voltei a praticar Muay Thai. No Brasil, essa arte marcial é também conhecida como boxe tailandês, sendo introduzida no país durante o final da década de 1970, na cidade de Curitiba, pelo grão-mestre Nélio Borges de Souza (1952-2018), o Nélio Naja.
Caramba, voltei ao Muay Thai após 24 anos parado! Na época em que parei de praticar, eu pesava 70 quilos, era um guri de 20 anos de idade e calouro do curso de História. É óbvio que é um recomeço difícil. Minha sorte é que meu Kru (professor) é um cara para lá de profissional e muito acolhedor, bem como meus companheiros de equipe.
Em um desses dias de aulas, encerradas as atividades, estávamos batendo um papo sobre atletas de alto desempenho. Meu professor comentou que não se lembra de algum praticante das antigas, que foi atleta de alto desempenho nas categorias infantil e infanto-juvenil que não tenha se arrebentado quando ingressou na classe adulta. “Nunca perderam, portanto, não sabiam lidar com a frustração da derrota na categoria adulta”.
Configuração mental – Na Educação, lidar com a frustração deveria fazer parte de algum componente curricular socioemocional, especialmente, entre estudantes de alto desempenho. Tal como os atletas mencionados pelo meu Kru, estudantes acostumados com o primeiro lugar, muitas vezes decorrentes de expectativas exageradas de seus pais, não sabem lidar com frustrações originadas de notas baixas em provas, trabalhos e demais atividades avaliativas.
“Mas, fulano é um bom aluno”. Notas baixas não significam, essencialmente, que a pessoa não seja boa estudante. Aliás, é uma das referências para classificar um estudante como bom ou ruim. Mas, vou deixar essa discussão para outra ocasião.
Fala-se muito em “mindset”. Em uma pesquisa rápida ao estilo Google, essa palavra pode ser compreendida como “mentalidade” ou “configuração mental”. Pelo que entendi, nossa forma de pensar e de atribuir certos sentidos e significados ao mundo passam pelo tipo e configuração mental que possuímos. Gente, que baita negócio falar sobre mentes fixas, em crescimento, etc.Na linha do tempo do meu perfil no Facebook, apareceu uma publicação impulsionada de um curso sobre “mindset de campeão”, ministrado por um famoso ex-lutador de MMA.
Ordem do dia – Defendo que temos de pensar na possibilidade de um “mindset da frustração”. Especialmente, na Educação Básica, entre estudantes acostumados com notas 10, sobre os quais seus pais depositam muita expectativa. Derrotas, frustrações e, principalmente, dificuldades de aprendizagem e notas baixas fazem parte do percurso de um bom aluno. Especialmente, quando a pessoa avança sobre novos níveis de ensino, cujas exigências serão bem maiores.
Infelizmente, trata-se de algo para o qual ainda não existe uma curricularização. Porém, é imprescindível, pois competências socioemocionais estão na ordem do dia de diversos aspectos da vida social, como por exemplo, na educação escolar, nos relacionamentos afetivos e no trabalho.
No fundo, é aprender aquele lance meio Rocky Balboa: “Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar. O quanto você pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha”.
Mindset da frustração é isso.
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