Mariano Soltys: CAPITALISMO, CULTO AO CORPO E A PRISÃO CORPORAL DE FOUCAULT

FILOSOFIA DO SUL SÃO BENTO DO SUL

FILME “PARAÍSO” LEVA A DIVERSAS REFLEXÕES

Por Mariano Soltys, advogado e professor

Um casal – Max e Elena – trabalha em uma grande empresa chamada Aeon, e o valor ou moeda de troca em questão é a vida, ou a idade, pois pessoas podem transferir anos de suas vidas para outras. Assim as pessoas pobres ficam mais velhas, uma vez têm a necessidade de vender a sua juventude, e as pessoas ricas aproveitam ampliar sua vida, numa verdadeira fonte da juventude, alquimia antiga.

Sophie é a CEO da empresa, de modo que necessita alguém compatível, por DNA, para ver-se jovem novamente. A nossa sociedade líquida consome cada vez mis com estética, e é mais que com a alimentação. As pessoas gastam tudo que têm em plásticas, tratamentos estéticos, buscando serem mais jovens. Isso também leva-nos a pensar no filósofo Foucault, que dizia existirem várias formas de controlar o corpo, de prender as pessoas, na sociedade. Na obra “Vigiar e Punir” transparece essa troca do tempo pela aprovação social, também presente no filme “Paraíso”.

Incêndio – O drama acontece quando o casal que morava num apartamento de luxo descobre que este teve um incêndio, e que o seguro não cobriu. Fica para pagar a conta, a caução, esta sendo 40 anos da vida de Elena, que assim tem de cumprir o contrato, sem questionar. Max, revoltado e questionando a patroa, Sophie, busca inspiração em grupo terrorista Adam, de líder Lilith, para recuperar a vida e juventude de esposa, chegando assim a sequestrar o que acha ser sua patroa, mais jovem, mas que depois descobre ser a sua filha secreta, a Marie, que acaba gerando novos desafios, tentando fugir e ameaçando o plano de recuperar a vida perdida.

O filme leva a diversas reflexões, como ao capitalismo que retira a vida dos vulneráveis e as oferece aos burgueses, bem como a diversas formas de perda e prisão do corpo, como escola, trabalho, detenção, etc, a que se referia o pensador Michel Foucault.

Na hipermodernidade que nos cerca, nessa infocracia das redes sociais – e o corpo e a juventude são cobrados e usados como valor, resta que filmes como “Paraíso” critiquem nossa sociedade, como sua promessa de um além-túmulo, a que criticava Nietzsche, um mundo melhor e salvação espiritual, já garantidos aos ricos, que curtem a vida e a juventude, enquanto outros aprisionam corpo e juventude em trabalho pouco renda e numa dupla jornada, remunerada de modo quase escravagista.

Culto da idolatria – O corpo também se torna cultuado, em buscas de redes sociais adultas, fantasias de libido, fetiches e uma série de sortes poucos aconselháveis. Um culto de idolatria, o corpo se torna o templo da maioria, enquanto a alma acaba sendo esquecida.

Promessas mágicas ou religiosas, como a alquímica fonte da juventude, ou o paraíso judaico-cristão, levam a se questionar qual o valor da vida e quem realmente vive. O Paraíso dessa empresa, desse Aeon, palavra que lembra um intervalo de tempo, um ciclo ou mesmo eternidade, demonstram juntamente com o grupo Adão, ou mesmo outras coisas, os valores que inspiram nossa sociedade e os poucos que podem usufruir da juventude e do tempo, pois tudo exige dinheiro. O corpo acaba sendo um investimento de alto valor, e cada vez mais se gasta com procedimentos estéticos, cirurgias, dietas, academias, etc.

WhatsApp – O grupo de WhatsApp do Jornal Edição Digital pode ser acessado clicando aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *