Mauro Stiegler: DIFERENÇA E REPETIÇÃO – É PRECISO RENOVAR AS VISTAS

DIMENSÕES DO CONTEMPORÂNEO SÃO BENTO DO SUL

QUANDO VOCÊ ENTRA NUM RESTAURANTE E PROCURA SENTAR-SE À MESMA MESA EM QUE ESTEVE NA ÚLTIMA VEZ NO MESMO LOCAL, QUAL O SIGNIFICADO DISSO?

Por Mauro Cesar Telesphoros Stiegler, psicólogo clínico

Quando você tem de desenvolver um trabalho cujo efeito é repetitivo, então há que se adotar um método, uma maneira de sistematizar o que se faz para com isso despender menor esforço e energia em decorrência ter uma produção maior, num menor espaço de tempo. É o que faz uma montadora de automóveis, por exemplo.

Agora, quando você entra num restaurante e procura sentar-se à mesma mesa em que esteve na última vez no mesmo local, qual o significado disso? Está certo! A comida estava boa, o vinho tinha uma safra excelente, a companhia era digna, o clima ajudou, o garçom foi além do habitual e tudo conspirou para o êxito do encontro, e naturalmente você guardou tudo na memória e tentará repetir a proeza. Justifica-se, embora não haja uma explicação científica para o ato.

Estaca de ferro – Quando eu era criança ouvi de um professor a história de um circo que havia comprado um elefante. Ele era um “bebê” para a espécie e foi amarrado com uma corrente numa estaca de ferro com autonomia para que pudesse alimentar-se e beber água e também circular em torno do espaço que lhe era destinado.

Era uma prática normal tal atitude naquelas circunstâncias e o elefante podia ser admirado pelos curiosos sem transtornos. No início ele, o elefante, tentou sair dali, fez força, gastou sua energia física em evadir-se. Tentava a mesma ação todo o dia, várias vezes no mesmo dia. E assim foi durante muito tempo.

Até que em algum momento, sem aviso prévio, parou de buscar a liberdade com aquele esforço. Acostumou-se com o cativeiro. Mas o tempo passou e ele cresceu. Ganhou peso, e ficou (como os elefantes adultos ficam) grande, pesado, com uma força incrível só valendo-se do próprio movimento do corpo.

Amor à liberdade – Mas, então, o amor à liberdade já o havia abandonado e ele não fazia valer aquelas quase seis toneladas de peso quando bastariam algumas passadas enérgicas em qualquer direção além do limite da corrente que o prendia para arrancar a estaca, a cerca e qualquer barreira que lhe impusesse e sair dali porque a tranca que o prendia ainda era a mesma de quando era um jovem elefante.

Este comportamento que faz com que se repita uma determinada ação mediante algum estímulo (ou não) é conhecido como reflexo condicionado.

O cientista russo Ivan Pavlov, quando estudava o processo digestivo nos animais mediante a produção de saliva em cães expostos a diversos estímulos, percebeu que a salivação ocorria em situações e estímulos que antes não causavam tal comportamento (os passos do tratador e o som de uma campainha, por exemplo), codificando esta descoberta. Este conhecimento, transposto para a medicina, tem ajudado na fisiologia e psicologia comportamental em seres humanos.

Luz – Este “condicionamento” faz com que a gente repita situações sem dar por isso, algumas delas são até ridículas – e motivo de risos quando reveladas. Só para citar algo que me ocorreu recentemente quando saí da churrascaria. Quando cheguei, fui ao banheiro lavar as mãos (uma atitude natural para quem pretende almoçar em algum lugar).

Mas, ao entrar percebo o ambiente escuro, no entanto várias pessoas estavam no recinto, duas ocupavam as pias, uma se mirava no espelho enquanto alguém secava as mãos e também tinha outro fazendo outra coisa.

Logo que entro e constato a penúria do ambiente, digo em voz alta “alguém já tentou acender a luz?”, e, unindo as palavras à ação uma imensa claridade engole o recinto e só ouço do alguém que estava fazendo outra coisa: “Pô! Até que enfim esta luz chegou”.

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