Wilson de Oliveira Neto: SÃO BENTO DO SUL E A IMIGRAÇÃO NO BRASIL

A HISTORICIDADE DAS COISAS SÃO BENTO DO SUL

A COLÔNIA AGRÍCOLA SÃO BENTO FOI UM EMPREENDIMENTO PARTICULAR

Por Wilson de Oliveira Neto, historiador

No próximo dia 23, será celebrado o aniversário de 150 anos de São Bento do Sul, município que surgiu a partir de uma pequena colônia agrícola europeia, majoritariamente de língua alemã, criada em 23 de setembro de 1873.

A Colônia Agrícola São Bento foi um empreendimento particular, administrado pela Sociedade Colonizadora Hanseática, a mesma responsável pela antiga Colônia Dona Francisca, atual Joinville. Foi a partir dela que a colonização europeia no nordeste catarinense avançou serra acima e chegou onde hoje é São Bento do Sul.

Entre o início do século XIX e a década de 1970, emigraram para o Brasil aproximadamente 5.600.000 pessoas, segundo informa Giralda Seyferth, saudosa antropóloga do Museu Nacional (Rio de Janeiro, RJ) e uma das maiores estudiosas da imigração no Brasil. De acordo com ela, emigraram diversas nacionalidades. Contudo, predominaram populações de origem latina, espanhóis, italianos e portugueses.

Terra – A imigração foi uma política de Estado iniciada no Império (1822-1889), sendo mantida durante a República. Substituição da força de trabalho escrava, ocupação de espaços geográficos “inabitados” ou limítrofes e mesmo branqueamento da população brasileira foram algumas das razões que motivaram a promoção da emigração para o Brasil.

Em um dos seus artigos publicados, o historiador Michael Hall menciona o discurso veiculado pela propaganda do governo imperial, segundo a qual o imigrante teria acesso à propriedade da terra em um país livre de conflitos raciais.

Grandezas e misérias – Como um aspecto da história brasileira, a imigração possui grandezas e misérias, aventuras e dramas, harmonia e conflitos, como por exemplo, os choques entre indígenas e colonos ou a ação de bugreiros em Santa Catarina, responsáveis pelo genocídio dos xokleng.

Na área da antiga Colônia São Bento, sabe-se há muito tempo dos conflitos entre indígenas e imigrantes, conforme revelou a documentação produzida pela sua direção e que está sob a guarda do Arquivo Histórico de Joinville (AHJ).

Preconceitos e privilégios – Entretanto, os imigrantes também foram vítimas, na medida em que foram viver em um país cuja sociedade oitocentista estava acostumada com séculos de escravidão indígena, africana e afrodescendente, além de ser profundamente estratificada e permeada por preconceitos e privilégios.

Ou, vítimas de sociedades colonizadoras mais preocupadas com seus lucros que o bem-estar dos imigrantes assentados em lugares inóspitos e isolados, diferentes das imagens e das palavras veiculadas pela propaganda.

Nas colônias, desde cedo, os imigrantes tiveram de contar com seus próprios esforços, especialmente, em se tratando de infraestrutura para atender suas necessidades mais básicas, a exemplo da educação e saúde.

Uma história rica de conteúdos e enredos, dos quais São Bento do Sul faz parte e que se fazem presentes em seu sesquicentenário.

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