leminski, ao dizer isso, escancara um erro comum de interpretação
por guillerme slominsky

é uma tarde chuvosa da curitiba de 1985. abrigados dentro da reitoria da ufpr estão alguns alunos, entusiastas e um palestrante bigodudo com aura de personagem principal, enunciando:
“o pixo está para o grafite como o grito está para a voz”.
leminski, ao dizer isso, escancara um erro comum de interpretação entre duas formas gêmeas de arte ancestral: o pixo, esculachado pela população em geral, e o grafite, com status entre elite e muitíssimo mais aceito em contexto urbano.
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diferença
crime ambiental – qual a diferença entre os dois? segundo o diário oficial, o ato de pichar é considerado crime ambiental, passível de multa e tudo mais, por ser “entendido como uma degradação da paisagem urbana, considerado uma expressão sem valor artístico, de modo que se enquadra como um ataque ao patrimônio e, portanto, crime”.
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interpretação
sempre houve – sempre existiu a necessidade humana de existir simbolicamente dentro de um espaço, vemos isso desde os tempos das cavernas com as pinturas rupestres representando a interpretação de cada pessoa do ambiente, vezes de animais, vezes do próprio grupo, sempre houve manifestação artística se usando um bom e velho muro de mural…
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paisagem urbana
intervenção – na paisagem urbana se apresenta de diferentes maneiras, nem sempre o artista vai ter à sua disposição todo o aparato necessário para se manifestar, mas isso não torna aquela intervenção menos importante.
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a própria palavra “pixação”, escrita com “x”, evidencia uma segregação social e linguística das normas cultas e escancara a necessidade de adaptação em espaços ocupados pela arte elitista ou elitizada. “a pichação aparece como uma força desviante não apenas em relação às obras de arte tradicionais, nem tampouco ao uso do espaço público, mas uma força desviante da atual ideologia linguística”.
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trends
internet – tem uma dessas trends de internet, que falava há um tempo sobre “se você pudesse dizer uma frase ou palavra que qualquer pessoa no mundo fosse ouvir, o que você diria?” e muitas vezes as respostas coincidiam em temas como: auto-ajuda, valorização da natureza, do tempo, até mesmo frases como “se você odeia ir para o trabalho, simplesmente não vá”. como se fosse uma opção super acessível, né, jéssica?
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frases
grito – para comunidades historicamente marginalizadas, a frase não viria super requintada ou até mesmo contemplativa, suas frases devem vir como pedido, um grito.
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“o pixo e as pinturas rupestres carregam um valor cultural enorme, assim como o grafitti. registram ideias de sua época, traduzem identidades e mostram o impacto de ações coletivas. são a lembrança de que o tempo é frágil e que nada dura para sempre”.
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ancestrais
ofensa – assim como nossos ancestrais, marcamos nossas vidas de diferentes maneiras através da arte. separar o pixo do grafite é uma ofensa às estéticas divergentes e é separar a arte que agrada filho de papai da arte real, que não é feita pra agradar, mas pra gritar.
e você, não anda sussurrando baixo pelos cantos né?
até a próxima.
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