Mauro Stiegler: O NARCISISMO E O PROBLEMA DA IDENTIDADE

DIMENSÕES DO CONTEMPORÂNEO SÃO BENTO DO SUL

SÃO INDIVÍDUOS QUE NO FUNDO GUARDAM UM MEDO AVASSALADOR DE REJEIÇÃO

Por Mauro César Telesphoros Stiegler, psicólogo clínico

O cujo conceito comum é a autoadoração extrema, acompanhada de uma indiferença que nega totalmente a necessidade de outra pessoa, é um assunto que há muito ocupa a atenção humana.

Ao contar o mito de Narciso, no século VIII d.C., Olvídio, em suas metamorfoses, deu início a uma longa tradição mítico/literária, a qual nos traz até os dias atuais um dos mais ricos materiais psicomitológicos, o qual nos utilizamos cotidianamente e às vezes, sem perceber, como espelho e comparação entre os seres humanos e seus comportamentos.

Ainda que a palavra narcisismo seja encontrada cotidianamente na boca humana, e muitas vezes é dita e empregada de forma correta, pode-se dizer ao mesmo tempo que apenas toca-se na superfície do fenômeno tão amplo e complexo que é o narcisismo.

Primeira infância – Pode-se dizer que a barreira impenetrável do narcisismo começou a ser penetrada primeiro pelas investigações em torno da primeira infância e da esquizofrenia. Mesmo assim, quando mais se adentrava no tema mais ele se mostrava gigante, complexo e desafiador.

Na psicopatologia narcísica, encontra-se – de forma quase universal – traços marcadamente semelhantes nos indivíduos que manifestam tal fenômeno; culto à própria imagem; uma crença de que são especiais; comportamento e táticas manipuladoras; facilidade em fazer seus pares se sentirem culpados, etc.

Além dessas características, há mais uma, e talvez a mais complexa, que passa despercebida: narcisistas são indivíduos que no fundo guardam um medo avassalador de rejeição, o que equivale dizer que são extremamente inseguros.

Toda aquela casca, de força, independência, domínio, não passa de um profundo e muitas vezes inconsciente mecanismo de defesa.

Humilhação e abuso – Contudo, mesmo sendo um indivíduo inseguro, e no fundo medroso, os danos que são capazes de causar em seus pares de relacionamentos afetivos, às vezes chegam a ser irreversíveis; sentimento de culpa projetado no a) parceiro; agressão verbal e, às vezes, física; humilhação e abuso na relação são algumas das consequências de quem convive com alguém narcisista de um grau considerável passa a experimentar depois de um certo tempo.

O narcisista, a bem da verdade, teme reconhecer a si mesmo, por isso fantasia uma espécie de entidade suprema que tenta anexar a sua identidade fragmentada.

Há cura? O que se pode dizer é que, dependendo do grau do fenômeno que se manifesta, pode haver conscientização e com isso uma dose de transformação, isso quando o próprio narcisismo já não transformou o caráter do indivíduo.

Aspectos de narcisismo todos temos; assim como características neuróticas. Quem não sentiu alguma vez uma fobia, crise de ansiedade, uma semana com sensação depressiva?

Um rei, um deus – Com narcisismo é semelhante: quem já – às vezes – não teve certeza de ser melhor e mais merecedor do que outros? Quem uma vez ou outra sentiu-se poderoso e inabalável? Diríamos que isso é até positivo, é uma espécie de narcisismo positivo, para não entrar em termos mais técnicos.

Para se saber se o narcisismo é tóxico, patológico realmente, é necessário perceber o quando a nossa vida é alterada cotidianamente, em seus aspectos mais simples, por exigência do outro, que não é recíproco, nem empático e menos ainda sensível com seu par. Em síntese: o narcisista comporta-se e até se crê um rei, um deus, e pasme, tem bons argumentos para sua tese.

Diante disso, cuidemos de nossa escolhas afetivas, e se por ventura estivermos em uma assim parecida, que reunamos forças e razão para dar os passos necessários, porque o narcisista já está doente, você talvez ainda não.

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