WILSON DE OLIVEIRA NETO (A HISTORICIDADE DAS COISAS): O IRÃ DO XÁ

A HISTORICIDADE DAS COISAS SÃO BENTO DO SUL

Detalhes de um país cujas origens estão situadas na Antiguidade

Por Wilson de Oliveira Neto, historiador

Nas últimas semanas, a República Islâmica do Irã voltou a chamar a atenção do público devido à ofensiva militar sobre o seu território lançada por Israel, em um ataque aéreo simultâneo contra alvos ligados ao programa nuclear iraniano. Entre a opinião pública brasileira, o fato se tornou, rapidamente, mais um marcador político na polarização entre Direita e Esquerda.

No Instagram, voltaram a circular trechos de um filme sobre Teerã na época da monarquia do Xá Reza Pahlevi, antes da Revolução Islâmica, em que belas e sorridentes moças desfilavam pelas ruas da capital iraniana com minissaias e penteados à moda ocidental, em contraste com o Irã contemporâneo, marcado pelo fanatismo e opressão xiita, especialmente contra as mulheres.

Origens
Queda da monarquia –
O Irã é um país antigo, cujas origens estão situadas na Antiguidade. Contudo, para entender como surgiu o regime dos aiatolás não é necessário voltarmos tanto no tempo, mas compreendermos um evento histórico ocorrido há 47 anos, conhecido como Revolução Iraniana, um movimento político popular iniciado em janeiro de 1978, que resultou na queda da monarquia, no exílio do Xá Reza Pahlevi (1919-1980) e na fundação da República Islâmica liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989).

Em 1953, houve um golpe de estado no Irã que derrubou o governo nacionalista de Mohammed Mossaddegh (1880-1967) e restaurou a monarquia com a dinastia Pahlevi, fundada em 1925. A restauração monárquica iraniana iniciou uma ditadura que durou 26 anos.

Controle
Modernização violenta –
Uma das características do regime do Xá Reza Pahlevi foi o controle dos meios de comunicação, com a produção de audiovisuais que apresentaram o Irã ao Ocidente como uma exceção entre países árabes belicosos e retrógrados.

Aliás, os iranianos não são árabes. A apresentação de um país em sintonia com a cultura e os interesses ocidentais mascarou uma modernização violenta e que distanciou as elites sociais da maioria da população iraniana.

Segundo narra o historiador Osvaldo Coggiola, o povo iraniano nutriu um grande ressentimento contra suas elites ostentatórias e perdulárias, representada pelo casal real. De acordo com Coggiola, às vésperas da revolução, o Irã era o segundo maior produtor mundial de petróleo.

Elite econômica
Política anticlerical –
Contudo, 85% das riquezas produzidas no país estavam concentradas entre sua elite econômica. A população estava empobrecida com uma inflação de 50% ao ano e uma dívida externa de US$ 10 bilhões. Em 1978, 90% dos iranianos estavam contra o governo de Reza Pahlevi.

A política anticlerical contra o xiismo colocou a monarquia em rota de colisão com os religiosos muçulmanos, entre os quais o aiatolá Khomeini era sua liderança mais importante. Mesmo exilado na França, ele fomentou a oposição ao governo do Xá, sendo as mesquitas espalhadas pelo Irã um meio de combate político contra o regime.

Insensível e impopular
Derradeiras mudanças –
Não é de estranhar que um governo tão insensível e impopular tenha gerado tanto ressentimento entre as pessoas ao ponto de, no começo de 1978, o processo revolucionário ter sido iniciado. Porém, as derradeiras mudanças no Irã ocorreram somente em 1979. Em 1º de fevereiro, Khomeini retornou do exílio. No mesmo mês, entre os dias 10 e 11, o regime caiu.

Embora a composição política dos revolucionários fosse variada, no começo de 1980, a facção xiita se tornou hegemônica. Em 1980, a Lei Islâmica foi implantada no país, sendo instalada a República Islâmica após um referendo popular realizado em 1º de abril daquele ano. Começava o Irã dos aiatolás.


WhatsApp – O grupo de WhatsApp do Jornal Edição Digital pode ser acessado aqui.