É UM ASSUNTO TANTO DO PASSADO QUANTO – E PRINCIPALMENTE – DO PRESENTE
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador
Há poucos dias, conclui uma sequência didática com a minha turma de 9o Ano do Ensino Fundamental sobre o “Entreguerras”. Na historiografia escolar brasileira, “Entreguerras” é o nome dado ao recorte temporal situado entre a assinatura do Tratado de Versalhes (1919) e o início da Segunda Guerra Mundial (1939). Na BNCC, o “Entreguerras” é contemplado pela Unidade Temática “Totalitarismos e Conflitos Mundiais”.
O Fascismo Histórico, do qual o Nazismo faz parte, é um dos assuntos abordados nessa UT. Dediquei ao tema duas semanas de estudos, quatro aulas no total. Encerrei a sequência didática com a análise de duas fontes históricas sobre o antissemitismo e a forma com a qual Hitler e os nazistas justificaram uma política de Estado que gerou guerra, escravização e genocídio.
A doutrina nacional-socialista compreendia que as leis da natureza também valiam para os homens e que, como nas demais espécies, a vida era marcada por uma disputa contínua por recursos limitados em que os apenas os superiores poderiam vencer. Assim como na natureza, tudo o que é fraco ou inviável desaparece. Ademais, Hitler, em “Minha Luta”, foi claro em afirmar que, historicamente, a escravização de povos inferiores por povos superiores foi essencial para o florescimento das civilizações.
ANIMAIS – “Sem a possibilidade que lhe foi dada de empregar homens de nível inferior, o ariano nunca teria podido dar os primeiros passos na estrada que devia conduzi-lo à civilização; da mesma maneira que, sem a ajuda de certos animais que possuíam as qualidades necessárias, as quais soube domesticar, ele nunca se teria tornado senhor de uma técnica que lhe permite atualmente prescindir, pouco a pouco, da ajuda desses animais”.
Em certo momento das aulas, foram inevitáveis questionamentos acerca do Nazismo ser um tema relegado somente ao passado, superado pelo fim da Segunda Guerra Mundial e de todo um conjunto de eventos políticos ocorrido ao longo das cinco décadas seguintes ao fim desse conflito, como, por exemplo, a descolonização afro-asiática ou os movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos.
SANTA CATARINA – Contudo, apesar dos pesares, além de todo o saber histórico acumulado, as ideias nazistas continuam a encantar pessoas. Especialmente, no Brasil. De forma cordial e erudita, falas antissemitas são pronunciadas por políticos e demais figuras públicas.
Segundo uma reportagem publicada na revista “Piauí”, estima-se que estejam em atividades no país 1.117 grupos neonazistas, dos quais 320 localizados aqui em Santa Catarina. No final do ano passado, a Polícia Civil iniciou uma operação de desmonte de uma célula neonazista no Estado, que envolveu prisões em flagrante ocorridas no município de São Pedro de Alcântara.
No mesmo período, foram pichados símbolos nazistas em banheiros dos campi da Univille e da UFSC em Joinville. Na ocasião, o Centro Acadêmico Livre de História “Eunaldo Verdi”, dos estudantes do curso de História da Univille, manifestou-se contra o ocorrido por meio de uma faixa, que foi recebida pelas redes sociais da pior maneira possível, em uma mistura de ignorância com fanatismo político.
Fatos que me levam a concluir que, definitivamente, o Nazismo é um assunto tanto do passado quanto – e principalmente – do presente.
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O fascismo se apresenta de forma cíclica, de tempos em tempos, com a retomada da crise dos mercados capitalistas, as massas populares se mobilizam para culpar um inimigo fictício a fim de manter o status quo que antes parecia confortável, soma-se isto ao investimento pesado em desinformação que, na presente geração, é facilmente distribuída, tem-se o resultado atual.
O futuro parece muito com o passado.