DIEGO ANDRADE (POLITICANDO): ATÉ QUE PONTO O CAPITALISMO PODE SER SUSTENTÁVEL?

POLITICANDO SÃO BENTO DO SUL

Com crescente crise climática e a destruição ambiental em escala global, surge uma pergunta fundamental

Por Diego Andrade, professor

Junho é o mês marcado pela conscientização ambiental. Conhecido como “Junho Verde”, esse período serve de alerta para refletirmos sobre os impactos humanos na natureza e a urgência da sustentabilidade. No entanto, diante da crescente crise climática e da destruição ambiental em escala global, surge uma pergunta fundamental: até que ponto o capitalismo pode ser sustentável?

Essa pergunta não é nova, mas continua urgente. O capitalismo, como sistema econômico dominante há pelo menos dois séculos, se estruturou com base na lógica da acumulação de capital, no crescimento econômico contínuo e na exploração intensiva dos recursos naturais. A natureza, nesse modelo, não é tratada como um sujeito de direitos ou como um bem comum essencial à vida, mas como um “estoque” de insumos disponíveis para exploração e lucro.

Produção em massa
Devastação –
Desde a Revolução Industrial, o avanço das máquinas, da produção em massa e do consumo desenfreado tem sido acompanhado pela devastação de florestas, poluição de rios e mares, contaminação do solo e do ar, além do aquecimento global. O planeta dá sinais de esgotamento, mas o sistema econômico insiste na ideia de que é possível crescer indefinidamente num mundo com recursos finitos.

Nos últimos anos, surgiram tentativas de suavizar essa contradição. Conceitos como “desenvolvimento sustentável”, “capitalismo verde”, “economia de baixo carbono” e “responsabilidade socioambiental corporativa” ganharam espaço nos discursos institucionais.

Algumas empresas passaram a investir em fontes de energia renováveis, reciclagem e certificações ambientais. No entanto, é preciso perguntar: essas iniciativas são mudanças estruturais ou apenas estratégias de marketing?

Greenwashing
Lógica –
Em muitos casos, o que se vê é o chamado greenwashing, termo usado para descrever práticas empresariais que se promovem como sustentáveis, mas que escondem práticas predatórias e socialmente injustas. Uma mineradora que patrocina campanhas ambientais enquanto devasta territórios indígenas; uma marca de roupas que promove coleções ecológicas, mas mantém sua produção baseada em trabalho precário em países pobres – esses são exemplos de como o capitalismo se adapta para manter a aparência de compromisso ambiental, sem mudar sua lógica central.

O problema de fundo é que o capitalismo opera por uma lógica que exige o lucro acima de tudo. A sustentabilidade, nesse contexto, torna-se secundária. Mesmo com pressões sociais e regulamentações, o sistema encontra maneiras de contornar restrições ambientais para continuar operando nos moldes tradicionais. Não é por acaso que os países mais ricos, responsáveis por grande parte da poluição global histórica, continuam postergando compromissos reais com a transição ecológica justa.

Impactos
Desigual –
Enquanto isso, os impactos ambientais são sentidos de maneira desigual. As populações mais pobres, especialmente em países do Sul Global, são as que mais sofrem com desastres climáticos, falta de saneamento, contaminação de recursos naturais e deslocamentos forçados por obras de infraestrutura ou atividades extrativistas. A crise ambiental, portanto, está profundamente ligada à desigualdade social e à lógica colonial do capitalismo globalizado.

Existem alternativas?
Sim –
Existem alternativas? Sim. Movimentos sociais, povos originários, cientistas e ambientalistas têm apontado caminhos baseados na justiça ambiental, na agroecologia, na economia solidária, no decrescimento econômico e na soberania popular sobre os bens comuns.

A proposta do “bem viver”, inspirada em cosmovisões indígenas da América Latina, coloca em primeiro plano a harmonia com a natureza e o coletivo, e não o acúmulo individual de riquezas. São propostas que exigem ruptura com os paradigmas atuais e a construção de um novo modo de vida.

No Brasil, que abriga a maior biodiversidade do planeta, essas discussões são ainda mais relevantes. A Amazônia, o Cerrado, o Pantanal e tantos outros biomas estão sob constante ameaça, impulsionados por interesses do agronegócio, da mineração e da especulação imobiliária. Não por acaso, os assassinatos de líderes ambientais, indígenas e quilombolas seguem alarmantemente altos. Defender o meio ambiente, nesse contexto, também é defender direitos humanos, democracia e soberania popular.

Elementos sustentáveis
Vida no centro –
Concluindo, é possível afirmar que o capitalismo até pode incorporar elementos sustentáveis de forma pontual e estratégica. Mas, estruturalmente, ele não está comprometido com a preservação da vida e do planeta. A lógica do lucro, da competitividade e da mercantilização da natureza é incompatível com uma relação verdadeiramente equilibrada com o meio ambiente. Se queremos um futuro viável, é preciso ir além do “capitalismo verde” e construir alternativas que coloquem a vida no centro – não o capital.

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