PAULO SCHWIRKOWSKI: A AROEIRA E SUA PIMENTA-ROSA

FLORA SBS SÃO BENTO DO SUL

São atribuídas inúmeras qualidades medicinais à planta, restringindo-se o seu uso, no entanto, ao nível doméstico

Por Paulo Schwirkowski,
pesquisador botânico

Nomes populares: Aroeira, aroeira-branca, aroeira-da-praia, aroeira-de-remédio, aroeira-mansa, aroeira-pimenteira, aroeira-vermelha, aroeirinha. Nome científico: Schinus terebinthifolia Raddi. Sinônimos: Schinus terebinthifolius Raddi. Família: Anacardiaceae. Tipo: Nativa, não endêmica do Brasil.

Característica
Estruturas vegetativas – Schinus terebinthifolius apresenta variação morfológica considerável em relação aos folíolos, principalmente na forma, tamanho, número, margem e ápice. Baseado nas estruturas vegetativas, Engler (1876) propôs suas variedades, enquanto que Barkley (1957), na revisão do gênero, reconheceu apenas quatro delas.

As análises morfológicas dos espécimes não apontam caracteres consistentes que definam bem todas essas variedades, e estudo morfoanatômicos e fisiológicos demonstram que Schinus terebinthifolius apresenta grande plasticidade morfológica em resposta aos habitats com diferentes condições luminicas (Sabbi et al. 2010), dessa maneira o tratamento a nível intraespecífico parece inviável.

As populações das restingas podem ser diferenciadas das populações de outras formações vegetacionais por apresentarem geralmente 5(-7-9) folíolos de (3,2-)4,9-10x(1,7-)2,2-3,3 (LUZ, 2011).

Floração e frutificação
Setembro a dezembro – Floresce de setembro a dezembro. Os frutos amadurecem de dezembro a junho. Dispersão: Zoocórica. Habitat – Distribuição geográfica: Ocorrências confirmadas: Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe); Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul); Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo); Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina); Possíveis ocorrências: Nordeste (Ceará)

Domínios Fitogeográficos: Cerrado, Mata Atlântica, Pampa. Tipo de Vegetação: Área Antrópica, Campo Limpo, Cerrado (lato sensu), Floresta Ciliar ou Galeria, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila (= Floresta Pluvial), Floresta Ombrófila Mista, Manguezal, Restinga (ANACARDIACEAE, 2019).

Etimologia
Propriedades – Fitoquímica: A casca é muito rica em tanantes, e pode produzir tinta para tecidos ou tanino para a curtição de couro e fortalecimento de redes de pesca. Da casca extrai-se o mastique, que é uma resina terebintácea aromática. Da casca também pode-se extrair um óleo volátil, de comprovada propriedade inseticida contra a Musca domestica (Mosca doméstica).

Fitoterapia: São atribuídas inúmeras qualidades medicinais à aroeira, restringindo-se o seu uso, no entanto, ao nível doméstico. Em Cuba, onde foi introduzida e recebeu o nome de copal, ela é usada como susbstituta do verdadeiro copal (Protium cubense) do qual se extrai uma resina terebintácea para uso em compressas (ROIG & MESA, 1945). BALBACHAS (1959) recomenda o chá das cascas (100 g/l de água) para curar diarréias e hemoptises.

Ela é utilizada também em banhos, com 25 g/litro de água, contra a ciática, a gôta, o reumatismo, e bactérias que se manifestam sob a forma de edemas do tipo erisipela. CORREIA (1926-1978) descreve as propriedades da casca observando seus efeitos depurativos, febrífugos e contra afecções uterinas em geral.

As folhas, segundo esse autor, são anti-reumáticas e valioso remédio na cura de úlceras e feridas. Aos frutos, atribui-lhes propriedades diuréticas e recomenda, ainda, precaução no uso da planta, devido às suas propriedades tóxicas, apesar de não haver dúvidas quanto às suas qualidades anti-nevrálgicas, adstringentes, tônica e estimulante (BAGGIO, 1988). (Recomenda-se cuidados no uso interno de medicamentos preparados com esta planta, pois em altas doses possui propriedades tóxicas).

Fitoeconomia
Culinária nacional e internacional – Tem sido amplamente utilizada na culinária nacional e internacional, pois suas sementes, conhecidas como pimenta-rosa, apresentam um sabor suave e levemente apimentado (LUZ, 2011).A madeira da aroeira é resistente, podendo ser utilizada como esteios e mourões, devido à sua durabilidade prolongada (REITZ, et al. 1978, SANCHOTENE, 1985).

A lenha desta espécie é de boa qualidade, sendo muito procurada no meio rural. Embora a literatura cite a madeira de aroeira como de alta densidade, não foram encontrados dados numéricos publicados sobre esta variável. Nas análises efetuadas, foi detectada uma densidade média, porém com características energéticas, comparáveis às de espécies como a bracatinga e alguns eucaliptos tradicionalmente utilizados para esse fim.

Os frutos da aroeira são utilizados como substitutos da pimenta-do-reino (Piper nigrum). Esta pimenta, conhecida como pimenta-rosa, pimenta-rosada e brazilian pepper, é muito famosa na cozinha européia, principalmente na França, e lá é conhecida como poivre-rose.

Apesar de ser uma planta extremamente comum, e até considerada daninha em alguns lugares, o preço dos frutos secos aqui no Brasil pode chegar a R$ 199,00 o Kg (KINUPP, 2007).Os frutos são amplamente consumidos por pássaros, o que explica sua ampla disseminação. Serve de forragem para os caprinos, e possui alto valor de digestibilidade.

Flores da aroeira
Grande potencial – As flores da aroeira possuem um grande potencial de fornecimento de pólen e néctar, pois o mel dela produzido é de excelente qualidade. Atualmente está sendo muito utilizada em paisagismo, na arborização de ruas e em parques e praças. É muito recomendada para uso em passeios estreitos.

Além da beleza da folhagem ampla, é perenifólia, a floração é prolongada, e os frutos atraem a avifauna. Os frutos da aroeira, por serem avidamente consumidos pelas aves em períodos rigorosos como o inverno, são importantes em programas de reflorestamento com mata nativa.

Além de ser recomendada para recuperação de solos pouco férteis, pode ser utilizada para recomposição da mata ciliar. Pode e vem sendo utilizada como fonte de palanques e estacas vivas para cercas e palanques de sustentação. Antigamente era utilizada também para o tingimento de redes de pesca (KNEIP, 2009). Há registros de que algumas pessoas são alérgicas aos compostos existentes nesta planta.

Injúria
Alta capacidade reprodutiva – Como fator negativo, a sua alta capacidade reprodutiva torna-a agressiva na invasão de áreas onde a sua presença não é desejável. Recomenda-se, portanto, Boletim de Pesquisa Florestal, Colombo, n. 17, p.25-32, dez. 1988. cautela no planejamento e manejo dos seus plantios, principalmente fora de sua região de origem.

Embora, no Brasil, não se caracterize como tal, ocorrendo em proporções equilibradas na flora nativa, a aroeira introduzida na Flórida tornou-se invasora (SANCHOTENE, 1985). Outras qualidades indesejáveis são suas propriedades alergênicas para pessoas sensíveis, ocasionando lesões e edemas. Ela é tida como tóxica também para o gado bovino (BAGGIO, 1988).

Comentários
Crescimento rápido – Árvore de crescimento rápido, reproduz-se por estacas de raízes e galhos. Os frutos devem ser colhidos quando passarem da cor verde para róseo-vermelho-viva, não é necessário quebra de dormência.

Na língua Guarani, o seu nome é yryvadja rembiu, que significa comida de tiribas (OLIVEIRA, 2009).É uma das 71 plantas medicinais listadas pelo Ministério da Saúde como de interesse ao SUS. Foi incluída na primeira edição da Farmacopéia Brasileira (1926).

Saiba mais
Acesse – Em https://sites.google.com/site/florasbs/anacardiaceae/schinus-3.

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