DIEGO ANDRADE (POLITICANDO): BOMBAS, PETRÓLEO E HIPOCRISIA

POLITICANDO SÃO BENTO DO SUL

Falhas do regime iraniano não podem ser justificativa para mais uma ofensiva militar

Por Diego Andrade, professor

A escalada de tensões entre Irã, Israel e Estados Unidos reacende mais um ciclo de instabilidade no Oriente Médio, uma região marcada por guerras, sanções e intervenções que, quase sempre, servem menos à paz e mais à manutenção de interesses estratégicos das grandes potências. No centro dessa disputa, está o povo: seja o iraniano, o palestino ou qualquer um dos milhões que vivem sob o peso da repressão interna e da guerra externa.

É inegável que o regime iraniano carrega em sua estrutura elementos autoritários e repressivos. As liberdades civis são severamente limitadas, mulheres enfrentam leis opressoras e a dissidência política é silenciada com violência. Ao mesmo tempo em que investe em milícias e em ambições geopolíticas, o governo iraniano negligencia direitos básicos da sua própria população. Essa crítica é necessária, sobretudo para quem defende os direitos humanos em sua integralidade.

Retórica cínica
Disfarce
– No entanto, o que não se pode admitir é que essas falhas do regime iraniano sirvam como justificativa para mais uma ofensiva militar liderada por Washington, com apoio de Israel. A retórica de “libertação” ou “promoção da democracia” promovida pelos Estados Unidos é cínica: não passa de um disfarce para uma velha e recorrente motivação — o controle geopolítico da região e, principalmente, do petróleo.

Riqueza petrolífera
Motor –
A riqueza petrolífera do Oriente Médio é o verdadeiro motor das guerras americanas. Desde o golpe de 1953, quando a CIA derrubou o primeiro-ministro iraniano Mohammad Mossadegh por tentar nacionalizar o petróleo, até as invasões no Iraque e as bases militares espalhadas por todo o Golfo, os EUA demonstram que sua política externa está atrelada à garantia de acesso e domínio sobre os recursos energéticos globais.

Duplo padrão
Gritante –
Israel, por sua vez, age como força militar avançada desse mesmo projeto. Sob o pretexto da autodefesa, bombardeia regularmente alvos em território sírio e iraquiano, assassina cientistas iranianos e mantém um arsenal nuclear clandestino, ao mesmo tempo em que acusa o Irã de ameaçar a paz regional. O duplo padrão é gritante: enquanto Israel se arma até os dentes com o apoio dos EUA, o Irã é punido por tentar desenvolver tecnologias similares, num ambiente de constante ameaça externa.

Hipocrisia

Recursos naturais – A hipocrisia é evidente. As mesmas potências que se dizem defensoras da paz financiam guerras, vendem armas e impõem sanções que destroem economias e causam fome. Não há preocupação real com a democracia ou com o povo iraniano. O objetivo é manter o Oriente Médio sob controle, enfraquecer qualquer nação que questione a ordem hegemônica e garantir a exploração continuada dos recursos naturais.

Geopolítica
Consequências –
Diante disso, não há inocentes no topo do poder. O regime iraniano deve ser criticado por sua repressão interna, mas isso jamais pode ser usado como desculpa para a destruição de um país e o massacre de seu povo. A guerra, como sempre, não será travada nos palácios nem nos parlamentos. Ela recairá sobre crianças, mulheres e trabalhadores que não têm culpa da geopolítica, mas carregam suas consequências no corpo e na alma.

Diplomacia
Coragem –
A única saída real passa pela diplomacia, pela soberania dos povos e pelo fim da lógica imperialista que transforma recursos naturais em justificativas para a guerra. O mundo não precisa de mais uma invasão, mas de coragem para enfrentar o ciclo de violência e interesses que já destruiu demais.

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