É TRISTE E REVOLTANTE TESTEMUNHAR SUA DETERIORAÇÃO
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador
Quando fui convidado para iniciar uma coluna neste jornal, imaginei um espaço de divulgação de história. Muita gente a confunde com nostalgia, compreendida como uma forma de representação idealizada do passado motivada pela saudade e pela noção de que algo se perdeu e que lá, nas antigas, era bom.
Divulgação de história é uma forma de textualização do conhecimento histórico produzido durante uma pesquisa e que tem diversos formatos, podendo ser um audiovisual, um card, um infográfico ou mesmo um artigo publicado em uma coluna de jornal, que são diferentes de um texto acadêmico destinado ao público especializado do Campo da História. No entanto, há aspectos comuns entre a divulgação de história e as publicações voltadas aos pesquisadores, dos quais se destacam as relações entre passado e presente.
Para os profissionais da História, não há como não estabelecer essa relação, naturalmente, com muito cuidado, pois há o risco da prática do anacronismo, um dos feitiços imperdoáveis da História. Mas, é justamente no presente em que o saber que eles produzem ganham sentidos e significados.
Colonização – Eu transito, praticamente, todos os dias pela Estrada Dona Francisca. Há dezessete anos, subo e desço a serra. Inicialmente, para minhas aulas no Colégio Global. Mais tarde, após casar e fixar residência em São Bento do Sul, passei a descer e subir para minhas aulas no campus Joinville da Univille. É a minha Carreira das Índias: uma hora e meia para descer, uma hora e meia para subir. Acho que já desci de tudo quanto é veículo, até de kombi.
A Estrada Dona Francisca é parte do patrimônio histórico pertencente à colonização europeia no nordeste de Santa Catarina, iniciada por volta da década de 1850, com a fundação da Colônia Dona Francisca, atual Joinville. Em São Bento do Sul, quando falamos de história e turismo locais, seus trechos antigos são obrigatórios.
Segundo Carlos Ficker, sua construção está situada em um contexto marcado pela necessidade de se estabelecer uma ligação terrestre entre Joinville e o planalto de Curitiba.
Contrato – Em 13 de junho de 1855, foi assinado um contrato entre a direção da Colônia Dona Francisca e o governo imperial. A consolidação do contrato para a construção da estrada ocorreu entre o final de 1857 e o começo de 1858, quando Léonce Aubé visitou a Corte e a capital da Província de Santa Catarina, a cidade de Desterro.
A obra foi iniciada em 29 de março de 1858 e levou meio século para ser concluída. Seus responsáveis tiveram de superar vários obstáculos administrativos, financeiros e geográficos. Sua construção não agradou o Paraná, pois a estrada concorreu com a Estrada Graciosa, o que resultou em uma treta tremenda com o governo paranaense.
Relevância – Enfim, são muitas histórias que conferem relevância à Estrada Dona Francisca. É triste e, principalmente, revoltante testemunhar sua deterioração decorrente do desleixo governamental e do trânsito pesado excessivo que se tornou uma fonte inesgotável de lentidão e acidentes.
E, diante de um possível descaso consciente, sobram a privatização e o pedágio, como se os problemas da infraestrutura pública fossem resolvidos com a varinha de condão da iniciativa privada. Nada mais desrespeitoso com o nosso patrimônio histórico.
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