Grupo desfilou com uma bandeira nas cores vermelha, preta e branca, composta por uma cruz e por emblemas
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador
O sábado foi marcado por dois grandes desfiles pelas ruas do Centro de São Bento do Sul – o primeiro, pela manhã, foi o desfile cívico de 7 de Setembro, abrilhantado pelas entidades da sociedade civil e pela mocidade das escolas e colégios do município; já o segundo, durante a tarde, o tradicional desfile alegórico da 40ª Schlachtfest, promovida pela Sociedade Ginástica e Desportiva São Bento (SGDSB).
Até aí, nada de novo no front. Como de costume, o desfile alegórico contou com grupos culturais (não me é simpática a palavra “folclórico”, pois, na sua origem, ela representa manifestações populares inferiores à alta cultura das elites oitocentista – daí a palavra inglesa “folklore”, os “costumes das pessoas”, conforme esclarecem Pelegrini e Funari, no livro “O que é Patrimônio Cultural Imaterial), de amigos, bem como de outras naturezas, em carros antigos decorados e trajando suas roupas “típicas”.
Canecos de chope
Contexto – Contudo, em um dos automóveis presentes no desfile, um grupo, além de roupas e canecos de chope, também portou uma bandeira tricolor, nas cores vermelha, preta e branca, composta por uma cruz e emblemas que remetem ao antigo Império Alemão, o Kaiserreich que existiu na atual Alemanha entre 1871 e 1918.
Em um contexto marcado pela polarização política e por evidências claras de neonazismo no Brasil e no exterior, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, um vídeo de alguns segundos de duração em que a tal da bandeira “nazista” aparece no desfile da Schlachtfest viralizou nas redes sociais e a reforça ruídos sobre a extrema direita e o neonazismo em Santa Catarina.
Diversas bandeiras históricas
Natureza militar – Mas, realmente, trata-se de uma bandeira nazista? Não é uma bandeira nazista. Desde que foi fundada, em 1871, a Alemanha possui diversas bandeiras históricas, muitas delas de natureza militar. Aquilo que foi exibido no desfile era para ser uma representação da Reichskriegsflagge, em uma tradução livre para o português, “Bandeira Militar Nacional”, a bandeira de guerra do Império Alemão, em uso entre os anos de 1870 e 1918, sendo suas cores branca e preta, pois representam as cores do Reino da Prússia (1701-1918), que liderou o processo de unificação dos antigos Estados Alemães.
Durante o regime nacional-socialista, de 1933 a 1945, a bandeira foi reintroduzida quando da criação da Wehrmacht, em 1935. Como ocorreu com os demais símbolos alemães anteriores ao Nazismo, a Reichskriegsflagge foi nazificada, sendo a águia imperial alemã substituída pela suástica e as cores da Prússia trocadas pelas cores da bandeira nazista, vermelha, preta e branca.
Anacronismo
Além do visível – O que aparece no desfile é um anacronismo de muito mal gosto, pois misturou a antiga bandeira do Kaiserreich, que tem nada a ver com o Nazismo, com as cores da Reichskriegsflagge da Wehrmacht. Sendo bem exato, a bandeira exibida no desfile não é uma coisa, nem outra. O que é menos ruim, pois se a turma está com vontade de inventar tradição e evocar as raízes dos seus ancestrais, que, pelo menos, façam de forma correta.
Por outro lado, antes de sair postando vídeo em rede social denunciando “A” ou “B” de nazista ou de fascistizante, é necessário ir além do visível e realmente saber do que se trata. Pois, ações e palavras impulsivas não contribuirão com a defesa da democracia e da luta contra o extremismo político e a reabilitação do fascismo histórico, do qual o Nazismo foi sua experiência mais dolorosa.
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