O filme mantém uma espécie de efeito especial artesanal, misturando terror leve e comédia, o que era mais comum em anos 1980 e 90
Por Mariano Soltys, filósofo e professor
Recentemente levando muitos à diversão e ao entretenimento, o filme que continua Besouro Suco é “Os Fantasmas Ainda se Divertem”, continuando a história anterior, com Michael Keaton em destaque, sendo ótima maquiagem e interpretação, e ainda a Vandinha, Jeena Ortega, no papel da filha da antiga menina, agora uma mãe paranormal pop, semelhante a “Medium”, da TV.
O filme mantém uma espécie de efeito especial artesanal, misturando terror leve e comédia, o que era mais comum em anos 1980 e 90, mas que perdeu em produções mais atuais. O filme parece uma viagem no tempo e está sendo ovacionado por nostálgicos, que também falavam bem do novo Top Gun, agradando assim a galera que tem em torno de 40 anos.
Modo de apreensão
Superpoderes – O filósofo grego falava que o fantasma é um modo de apreensão instantâneo do intelecto sobre as afecções recebidas pelos sentidos. Segundo Tomás de Aquino, o ser humano não pode conhecer coisa alguma sem recorrer aos fantasmas, conforme trabalho de Gilson Linhares, graduado em Filosofia.
Por outro lado, a noção de fantasmas das pessoas é mais um espiritualismo, influenciado por noções de Kardec, Chico Xavier e outros, e assim uma continuação após a morte das pessoas, mesmo que mais etérica e com superpoderes.
Fato é que a abstração de nossa mente, ou uma capacidade para tal, importa em uma forma de lidar com o que recebemos pelos sentidos. O mesmo se dá com sonhos e pesadelos, que parecem ser uma linguagem mais próxima às fantasias retratadas em “Os Fantasmas Ainda se Divertem”, que mistura esses seres fantásticos, monstros, desertos, mundos simbólicos, labirintos etc.
Já o caos personalizado se resume no Besouro Suco, espécie de Loki da mitologia escandinava, brincalhão e poderoso, um demônio que gera muita confusão, mas que ao fim é superado pelo próprio pacto e suas lacunas contratuais.
Limites pouco claros
Universo gótico – O filme retrata o sentido bem presente em anos 1980 e 90, com limites pouco claros de estilos, misturando comédia, mesmo que com um humor ácido, estilo Tim Burton. Tal produção assim agradou a crítica, bem como as pessoas que perceberam uma ligação espiritual ao filme antigo, desconhecido dos mais jovens, mas que guardava um clássico merecedor de uma continuação, como agora ocorre.
E a Vandinha, agora personagem mais leve, nos faz lembrar também de Família Adams, que também trazia esse universo gótico, sem deixar de fazer boas críticas a sociedade atual, sendo que Geena na personagem adolescente Astrid, que foi enganada por um namorado psicopata, mas que foi ainda salva do inferno pela mãe.
Redes sociais
Ilusões – No mundo atual cheio de ilusões em redes sociais, as mães ainda salvam as filhas de jogos duvidosos, conquistadores ilusórios e valores de uma sociedade líquida baumaniana. Já Aristóteles volta em filosofias neo-escolásticas, com conservadores e uma admiração por produções de remakes do cinema. Os fantasmas da filosofia voltam e ainda se divertem, mesmo em tempos de pós-verdade.
WhatsApp – O grupo de WhatsApp do Jornal Edição Digital pode ser acessado clicando aqui.