MESMO VENDO O LADO MAIS SIMBÓLICO DA BÍBLIA, NÃO SE PODE NEGAR A GRANDE SABEDORIA PRESENTE
Por Mariano Soltys, advogado e professor
Desde que comecei a ler sobre filosofia, sempre me deixou perplexo o fato de filósofos conhecerem a Bíblia. Não simplesmente como crentes, mas como críticos, muitas vezes para apoiarem algum ateísmo, apesar de notar o grande conhecimento de muitos sobre os textos.
Isso talvez fosse explicado pela origem religiosa, mesmo de filósofos como Descartes, Espinoza, Giordano Bruno, dentre tantos outros, bem como em comparação à ciência que vinha surgindo, mais na modernidade, e levou esses pensadores para a Bíblia, seja a comentando, seja a questionando.
Alguns desses filósofos eram judeus, e isso leva a explicar o grande saber, uma vez o contato com comentários e comentários, como o Talmude, o Midrash, as Mishnas, etc –os textos são esmiuçados e se pode perceber o grande saber judaico sobre as Sagradas Escrituras. Até mesmo Voltaire, em seu Dicionário Filosófico, comenta fatos narrados na Bíblia, apesar que questionando por vezes, o que talvez mostrasse o clima iluminista. Pascal teria também comentado muito, mas esse a favor da Bíblia e do cristianismo, o que leva a uma boa meditação a leitura de seu livro Pensamentos.
Despertar – Mas o grande despertar na minha leitura foi um comentário de Emanuel Levinás, que tratava do saber judaico sobre a Bíblia, e os comentários e o maior detalhe na língua hebraica, nas letras, números, sons, etc, que vai até um nível de detalhes muitos profundos das Escrituras, o que ele citou referente aos materiais como a extensa obra do Talmude.
Claro que os filósofos medievais, e mesmo os padres da Igreja, dentre outros, desde filósofo Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Anselmo, Gregório, Abelardo e tantos outros são essenciais a se entender a filosofia platônica e aristotélica, como a se entender a filosofia, isso tudo dentro do ambiente da Igreja Católica, onde nasceram tantos pensadores.
Uma pena pensadores atuais não se focarem tanto na Bíblia, ou na religião, de modo a sociedade perder muito com a sua sabedoria, como já vem ocorrendo desde o pensamento moderno, mais após existencialismo, dentre outras correntes. Já eu não deixo de estudar a Bíblia, mesmo com anos dedicados também a filosofia, rendendo meus livros, como o Bíblia e Misticismo e outros.
Paradigmas – O fato de se descartar a sabedoria do passado leva muito a se perder a experiência e paradigmas anteriores, que ainda podem ser utilizados, bem como as metanarrativas que ainda existem. Mesmo vendo o lado mais simbólico da Bíblia, não se pode negar a grande sabedoria presente, como regras éticas, situações históricas, milagres, superação humana e mesmo uma metafísica. A metafísica que a filosofia vem de tempo negando, mas que no início ganhava ainda destaque no pensamento filosófico. Resgatar essa metafísica é essencial a não se esquecer a dimensão humana, que envolve também a religião.
Biografias – Mesmo nas biografias que escrevi de filósofos, muitos deles se dedicavam à espiritualidade, seja desde Pitágoras, Sócrates, Heráclito e outros, e os deuses podem ter se mudado em um único Deus, mas a filosofia deve muito ao passado, não sendo sábio descartar alguma dimensão desse pensamento que se chama de milagre grego.
Recentemente venho lendo a Torá comentada pelo Rashi, que também comenta o Talmude, o que vem ampliando o conhecimento dos primeiros livros da Bíblia para mim. Filosofar não elimina a dimensão religiosa.
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