Confira os versos do autor do livro “Pão de Pântano”
Por Elvis Lozeiko
Dizem por aí
Que é um coração vagabundo.
Mentira!
Trabalhou o ano inteiro,
Inclusive fins de semana e feriados,
Sequer tirou férias.
Verdade que andou fora do ritmo,
Por vezes palpitou mais forte,
Mas jamais parou.
Se preciso, faz hora extra
(E nem cobra por isso),
Labuta na neve ou no fogo,
No sol ou na chuva,
No mormaço também.
É um coração sofrido,
Porém incansável.
Na hora do almoço,
Tirou uma sonequinha,
Bebeu café e retomou a luta,
Superou-se mais uma vez,
Ouviu o que não devia,
Ficou quieto por bom senso,
Suspirou barbaramente
Quando a saudade lhe bateu à porta.
Quis dançar ao som do silêncio,
Apreciar o canto do sabiá,
Acampar na mais alta montanha,
Banhar-se no rio sem poluição.
É o coração trabalhador,
Reconhecido pela resistência
E pelo destemor.
Continua bombando,
Irrequieto,
À procura da soberania,
À procura do seu sorriso,
Do seu corpo e do seu estilo,
Como se tivesse uma bússola,
Como se um ímã fosse.
É o responsável pelo sangue,
Pelo suor, pelas lágrimas.
Eita coração!
Quão especial e único,
Insubstituível,
Mesmo agasalhado pela frieza,
Mesmo abandonado às vezes,
Consegue cumprir seu papel,
Consegue deixar nas entrelinhas
O sentimento que nutre por ela,
Pela pessoa amada.
Aliás, é um coração novo,
Ainda que a velhice esteja chegando,
Ainda que as marcas persistam,
E insistam em suspirar lentamente.
É um coração que corre muito,
Bateu todos os recordes,
Embora não sejam reconhecidos,
Tem musculatura suficiente
Para escalar, impiedosamente,
O Everest da sua alma
Ou as unhas vermelhas dos seus pés.
Já foi pisado, é verdade,
Mas, tal qual a fênix,
Ressurge eternamente,
E volta a lhe procurar,
A lhe perseguir por puro instinto.
É o coração maldito, bem quisto,
Por vezes esquisito.
*Copyright “Pão de Pântano” (Elvis Lozeiko; Editora Nova Letra; Págs. 125 e 126). Adquira o livro clicando aqui.
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