Para o bolsonarismo, esse abandono representa o colapso simbólico de seu mito internacional
Por Diego Andrade, professor

A aliança entre Donald Trump e Jair Bolsonaro sempre foi marcada por um discurso populista e autoritário, sustentado em fake news, negacionismo e ataques às instituições democráticas.
Durante anos, ambos tentaram se projetar como defensores de uma suposta “liberdade” que, na prática, servia apenas para justificar o desmonte do Estado, o ódio ideológico e a perseguição a minorias.
No entanto, quando o poder e os interesses mudam, a lealdade se dissolve e Trump, que sempre tratou Bolsonaro como um aliado útil, agora o abandona sem hesitação.
Previsível
Bastidores – Nos bastidores da política internacional, essa ruptura já era previsível. Trump é movido por conveniência e autopreservação. Com as investigações sobre o ataque ao Capitólio e a tentativa de golpe nos Estados Unidos, ele tenta se distanciar de qualquer figura que possa associá-lo a extremismos fora de seu controle.
Bolsonaro, por sua vez, virou um peso político, cercado de escândalos, investigações e isolamento. O ex-presidente americano não vê mais utilidade em um aliado derrotado, desmoralizado e sem poder de influência real.
Imagem
Cruzada – Para o bolsonarismo, esse abandono representa o colapso simbólico de seu mito internacional. Durante anos, os seguidores de Bolsonaro tentaram associar sua imagem à de Trump, acreditando fazer parte de uma cruzada global contra o “sistema”.
Agora, percebem que eram apenas peças descartáveis no jogo de interesses de um bilionário que jamais se importou com o Brasil ou com qualquer projeto de solidariedade entre nações. Trump não abandonou apenas Bolsonaro; abandonou também a ilusão de um movimento internacional de Direita unificado.
Inspiração estrangeira
Isolamento – Politicamente, esse distanciamento fragiliza ainda mais o campo da Extrema Direita no Brasil. Sem o respaldo de Trump, Bolsonaro perde parte de seu discurso de legitimidade e de inspiração estrangeira.
Isolado, ele enfrenta um cenário jurídico desfavorável e um eleitorado que começa a se cansar de promessas vazias, teorias conspiratórias e fracassos administrativos. O abandono de Trump é, portanto, o retrato da solidão de um líder que construiu seu poder sobre o servilismo e a mentira.
Conveniência
Consequências – No fundo, a relação entre os dois nunca foi de amizade, mas de conveniência. Trump usou Bolsonaro como símbolo de apoio internacional ao trumpismo; Bolsonaro usou Trump como espelho de seu próprio projeto autoritário.
Agora, cada um enfrenta as consequências de seus atos. A Extrema Direita global, que parecia triunfante há poucos anos, dá sinais de desintegração. O abandono de Trump mostra que o bolsonarismo está órfão e talvez, pela primeira vez, sem um roteiro a seguir.
Foto Alan Santos/PR
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