se você não assume nenhuma responsabilidade com crenças ou ambições…
Por Guillerme Slominsky

esses dias deparei com um vídeo sobre a falsa leitura de livros no qual é discutido o aspecto estético da leitura, ou, como vem sendo chamada, a leitura performática. em sites de moda e composição de looks não é incomum ver livros como um “aesthetic”, uma estética específica que não necessariamente cumpre sua função, que primordialmente é ser lido, mas cria um novo olhar sobre aquele objeto, passando a ser de decoração.
em “a sociedade do espetáculo” de 1967, guy debord já falava sobre a espetacularização, que é a relação social mediada por imagens. essa imagem é como se fosse um palco, onde colocamos o que há de melhor no cotidiano: os rolês com copo de chopp na mão, os restaurantes e viagens de final de semana, o réveillon na praia, a foto da chave do apê novo. isso tudo é moldado, editado, planejado: é um espetáculo.
conversa de verdade
carne e osso – qual foi a última vez que você conversou de verdade com a sua amiga de escola que mora longe, sem ser por meio das curtidas nos stories ou reagindo as fotos com “amei”? ao invés de nos relacionarmos com as pessoas de carne e osso, passamos a interagir com suas representações online, com nossas personas imersas em uma lógica contemporânea de espetáculo vazio.
carro
bom o suficiente – usar livros para não lê-los é como gastar milhares de Reais para comprar um carro só porque ele vai ficar lindo na sua garagem… pera, já tem gente que faz isso. não há mais uma necessidade de ser, afinal, parecer já é bom o suficiente.
e daí a gente lembra de “o show de truman” de 1998: a sua vida inteira o personagem é aprisionado e mantido sobre controle através da própria imagem, que é mercadoria pra grande massa. depois de passar por umas poucas e boas, e aqui vou tentar não dar spoiler, o cara que tá assistindo simplesmente lança um: “será que tá passando futebol?” e a vida segue normalmente no próximo canal.
deveras cringe
ambições – o complicado é que manter uma panca hoje em dia é deveras cringe. qualquer um que já teve um pequeno negócio ou começou uma ideia do zero ou simplesmente trabalha com arte sabe como é difícil ser e se sentir valorizado com algo autêntico.
se você não assume nenhuma responsabilidade com crenças ou ambições, você meio que fica inabalável, com um grande escudo contra a vulnerabilidade. e assim nascem trends como as do bobbie goods, labubu dentre outras que apelam única e exclusivamente para uma estética. na maioria das vezes, sustentada pelo consumismo e que passa antes que você tenha terminado de pagar os sete mil dólares parcelados no cartão de crédito.
valor moral
avanço – o debate aqui não tem como objetivo focar no valor moral desse tipo de comportamento, mas evidenciar que ele acontece e conforme o avanço do capitalismo tardio, tende a continuar. e portanto, vejo que no momento a minha melhor opção é sentar e assistir à performance, comendo a minha pipoquinha confortavelmente. aceitas?
até a próxima,
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