se fosse fácil assim de escrever, não teria tanta gente enlouquecendo no processo
Por Guillerme Slominsky

se fosse fácil assim de escrever um poema não teria tanta gente enlouquecendo no processo, ao mesmo tempo que deve envolver paixão e ardor, se a gente colocar sentimento sem intenção, vira uma bagunça! um amontoado de ideias que não leva, no final, a lugar nenhum.
eis que, segundo a definição técnica, poemas são uma forma de literatura que “usa estética ou propriedades rítmicas da linguagem para comunicar ou expressar uma ideia ou emoção”. ou seja, para ser poema, é preciso ter: estética; sonoridade; linguagem e; comunicação de ideias/emoções. sabendo disso, alguns anos atrás havia um site onde estava documentado o que se achava ser, até então, “menor poema da história”, de autor desconhecido.

líderes e figuras
história – o título do poema aqui se mistura de propósito à obra, dizendo: “pulgas: / adão / tinha-as”. mohammad ali compôs um poema mais curto ainda quando discursou em harvard, lá em 1975.
usando apenas quatro letrinhas eles resumiu o poder que líderes e figuras importantes têm na história: “ME / WE”. (traduzindo: “eu / nós”) esse é um dos marcos na história dos poemas rimados, mas acontece que nem precisa rimar pra ser considerado um poema. nem mesmo conter tantas… palavras. ou mesmo letras…
usando um artifício inteligentíssimo é possível usar o título, como vimos no poema das pulgas, pra dar uma carga de contexto e sentido à obra, e assim nasceu “FIT: N” esse título, quando lido junto com o conteúdo soa como “fit in”, ou encaixar, em inglês, e cara… quanto significado pode-se tirar disso!
discussão
contagem de palavras – mas ainda é uma discussão se o título pode ou não ser considerado como componente próprio da poesia, e então ser considerado na contagem de palavras. se pararmos de usar esse artifício de incluir o título, qual seria enfim o menor poema já escrito?
(o guinness book parou a contagem dessa competição porque já tava ficando meio absurda, mas ainda deu tempo de reconhecer UM MANO pela genial composição que levou a marca.)
deixar uma impressão
pingo no i – tinha esse poema, escrito originalmente por vladmir burda que dizia “ich” ou “eu”, em português. quando traduzido do tcheco para inglês pelo excelentíssimo senhor j. w. curry, tomou um significado incrível, meu mano simplesmente, ao invés de colocar um “i” (eu), com um ponto de tinta regular em cima, substituiu esse pingo no i por sua própria impressão digital.
e ali a obra tomou um significado diferente, afinal, não era mais como o original, ele se tornou único, porque era exclusivamente dele, j. w. traduziu e ressignificou a obra, tornando-a sua.
e agora?
coletividade – mas e agora? como interpretar o significado? toda a sua identidade estava contida nessa obra, nós somos indivíduos únicos, tabelados sobre a mesma definição: o eu.
mas poderia ser também além de uma definição, uma identidade coletiva, uma ode à existência humana? à toda sua complexidade? para cada pessoa que existe e já existiu houve algo que as definisse, uma impressão, baseada no que aquela pessoa fez ou faz para a coletividade.
quanta carga e significado em somente uma letra, e aposto que cada um que observar atento pode encontrar mais. te convido a tentar. enquanto isso,
até a próxima
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