O regime nacional-socialista, apesar do nome, foi um fenômeno político de Extrema-Direita
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador
Durante uma live com Elon Musk, transmitida pelo X, no último dia 9, a candidata à chefia do governo da Alemanha pelo partido político de Extrema-Direita Alternative für Deutschland (AfD), Alice Weidel, afirmou que Adolf Hitler (1889-1945) não foi um político “de Direita”. “Ele não era conservador. Ele era esse cara socialista, comunista”, disse a candidata.
A empresa pública de notícias e radiodifusão alemã Deutsche Welle (DW) respondeu as afirmações de Wiedel com uma matéria que ouviu historiadores alemães especializados na história do Nazismo que refutaram Alice Weidel, com destaque para Thomas Weber, autor do livro “Tornando-se Hitler”, publicado no Brasil pela editora Record, em 2019.
Comentários
Fenômeno político – Não foi a primeira vez em que procurou-se associar Hitler, Nazismo e Socialismo, associação esta vulgarmente conhecida como “nazismo de Esquerda”. Em redes sociais, como, por exemplo, no Facebook e no Instagram, são recorrentes comentários do gênero feito por usuários brasileiros e estrangeiros, como é possível constatar no perfil da DW em língua portuguesa no Instagram, em especial, nos comentários à matéria “Por que não faz sentido chamar Hitler de comunista”.
Não me interessa, novamente, explicar e demonstrar por meio de fontes bibliográficas e históricas que o movimento/regime nacional-socialista, apesar do nome, foi um fenômeno político de Extrema-Direita e que seu líder (Führer) Adolf Hitler tinha nada de Esquerda. Como não diria Alice Weidel: ele não era esse cara socialista, comunista.
Ordem histórica
Meta-mal – Interessa-me entender o que motiva pessoas, muitas das quais cultas, informadas e com excelentes formações acadêmicas, forçarem tanto a barra com essa bobagem de “nazismo de Esquerda”.
Afirmações anacrônicas, distorcidas ou mesmo falsas sobre o passado, tais como de Alice Weidel, são motivadas por problemas políticos que nada têm a ver com preocupações de ordem histórica. Hitler e o Nazismo se tornaram uma espécie de meta-mal com o qual ninguém deseja ser associado, pelo menos publicamente.
Passado cruel e violento
Distorcionismo – Daí uma das características dos discursos “de Direita” no presente: afastar-se de um passado cruel e violento representado pelo fascismo histórico, do qual o Nazismo faz parte. Por meio do distorcionismo e de um requentado e rançoso conceito de Totalitarismo, a Direita tenta reescrever a história empurrando a conta para a Esquerda que, diga-se de passagem, tem os seus próprios demônios para exorcizar.
Nada mais contraditório, uma vez em que a Direita adora apontar o dedo para a produção cultural, em que a escrita da história está situada, e acusá-la de possuir um “viés” de Esquerda. No entanto, ao insistir na estória de um nazismo de Esquerda, ela se torna tão enviesada quanto.
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