A elite econômica brasileira sente na pele o que é ser vítima da arbitrariedade do imperialismo
Por Wilson de Oliveira Neto, historiador

De vez em quando, eu tenho a sensação de estar em um loop temporal e de voltar à época da Guerra Fria ou mesmo no século XIX, no tempo do colonialismo, quando boa parte do mundo estava sob controle das potências imperiais do Hemisfério Norte.
Especialmente, com o tal do “tarifaço” que será imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros importados pelo país a partir de 1º de agosto. Em um ambiente polarizado como o nosso, sobra desinformação e falta contextualização dos fatos.
Perguntado sobre as razões que motivaram para ter uma atitude tão absurda, naturalmente, se levarmos em consideração que o comércio entre Brasil e Estados Unidos é superavitário para os americanos, o presidente Donald Trump respondeu que “Estamos fazendo isso porque eu posso fazer”. E, completou: “Ninguém mais seria capaz”.
Umbigo do Tio Sam
Inegável poder – Pensando exclusivamente no umbigo do Tio Sam, o presidente Trump apelou para o inegável poder econômico da superpotência que ele lidera. Ninguém mais seria capaz, na medida em que, nas atuais circunstâncias, somente os Estados Unidos possuem condições objetivas para ameaçar inúmeros países, entre os quais o Brasil.
A atitude de Trump retoma uma das práticas políticas dos Estados Unidos sobre a América Latina, conhecida como “diplomacia do Dólar”, cujas origens estão situadas no final dos oitocentos, quando a política externa estadunidense passou a compreender as nações latino-americanas como parte de uma zona de influência estadunidense.
Países “obedientes”
Desalinhada – Antes de surgir o complexo militar-industrial, existia o Dólar. Até a Segunda Guerra Mundial, a elite estadunidense entendia que o poder dos Estados Unidos seria expresso por meio da sua economia e, naturalmente, junto com um “grande porrete” quando necessário.
Na prática, a diplomacia do Dólar funciona da seguinte forma: enquanto os países “obedientes”, a exemplo da Argentina governada pelo presidente “ancap” Milei, são recompensados, as nações que não andam na linha são punidas. Contudo, pergunto-me até que ponto o Brasil do governo Lula é desalinhado? Especialmente, pela balança comercial favorável aos Estados Unidos. É evidente que há caroço nesse angu.
Como uma superpotência hegemônica, não foi a primeira vez que os Estados Unidos apelaram para o seu poder econômico. Nem será a última, pois, historicamente, todo império, monarquia dinástica, potência ou, após a Segunda Guerra Mundial, superpotência, exerce poder de forma abusiva sobre entidades políticas mais fracas.
Saia justa
Dúvidas – No caso do “tarifaço”, pela primeira vez, a elite econômica brasileira contemporânea sente na pele o que é ser vítima da arbitrariedade do imperialismo, embora eu tenha as minhas dúvidas se essa elite entende que o problema está para além do rio Grande, em direção a Washington – DC.
Resta sabermos se essa mesma elite vai trabalhar em conjunto com o governo e a sociedade para podermos sair dessa saia justa. Ou, socializará suas perdas com as pessoas, como ela faz desde muito tempo.
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