A escola é o melhor combate ao crime
Por Mariano Soltys, filósofo e professor

Quando criança, já me deparava com a fome de uma justiça, seja em amigos que eram humilhados na escola, seja por mim mesmo, que por vezes sofria alguma forma de bullying, que no tempo era também reagido com alguma forma agressiva, marca dos anos 80 e 90.
Sempre muito calado, guardava para mim um universo de palavras, gestos, piadas, suposições das pessoas que me rodeavam, moldando disso, para mim, alguma sabedoria e que poderia retirar daí. Eu nasci em uma família de classe média, de trabalhadores, seja por parte de pai técnico, de mãe que trabalhou no sindicato patronal, seja por avô mecânico, e assim por diante.
Leia livros
Combustível – Não passei fome, não convivi com o crime em proximidade, não vivi em comunidade ou favela, nem convivi com tiros. Isso me levou para o Direito, quando com 17 anos, estava fazendo a inscrição para o vestibular, e por conselho de meu pai, me vi, mesmo contra a confiança de quem me conhecia, mas ainda apoiado por professores que me prestigiaram, tendo assim combustível para buscar essa fome e sede de justiça.
Quando trabalhava numa empresa da região, cheguei a pensar em desistir de curso de Direito, mas tudo se encaminhou. Sobrevivi, lutei, silencioso ainda. Não falava muito, mas construía meu universo em linhas que guardava, em diários, cadernos, agendas, bem como nas centenas de livros que lia. Outro conselho de pai: leia livros.
Racismo estrutural
Rio – Hoje vi um moço da USP que viveu na favela, em um vídeo, e que comentava o que ocorreu no Rio. Não vou generalizar o que ele disse sobre a polícia, pois são seres humanos, também com sede e fome de justiça. Não vou negar que nosso País vive e viveu um racismo estrutural, que passa pela história, desde o fim da escravidão, e o surgimento das favelas.
Também não posso negar que tenho uma vida mais tranquila, sempre admirei meus amigos da polícia, e meu sogro era coronel, guardo seu troféu aqui em casa, e uso seu relógio. Mas também não vejo a morte dos jovens como a melhor solução, sendo que o melhor sempre achei a educação.
Sal
Lágrimas – Meu sogro tinha acho que cinco cursos superiores, sendo um policial muito culto. Além da advocacia, a fome e a sede de justiça me levaram para a escola. Até hoje sofro com os jovens, mas prefiro eles com canetas, lápis, cadernos e bolas de papel do que com armas nas mãos, enfrentando a polícia. Mais do que essa fome, aqueles jovens moços do Rio devem ter passado fome de comida mesmo.
Suas mães choram, e talvez as suas lágrimas temperem com sal a terra de onde velam seus meninos. Contudo, meu pai era militar, e já chegou a exercer atos heroicos, mais recentemente como brigadista da empresa, também, em cidades que passaram por enchentes.
Atividade educativa
Xadrez – Nesta semana ouvi um relato de policial do Proerd sobre atividades difíceis junto a acidentes fatais no trânsito, na escola. Ele também livra os jovens das drogas. A atividade educativa, nesse sentido, é de suma necessidade, e livra esses jovens de um destino que os ceifa a vida, bem como ceifa a vida de nobres policiais, no exercício de sua função.
O problema filosófico é que eles representam lutas de classes, e que os verdadeiros culpados, uma sociedade desigual e injusta, coloca eles nesse jogo de xadrez, onde morrem apenas as peças de peões, nunca grandes líderes, ou os donos do jogo.
Trabalho
Educação – O Brasil merece uma solução para a questão de violência, mas essa talvez seja mais pela educação, trabalho, humanidade, oportunidade aos meninos da favela, que assim como eu, que tive uma vida bem mais tranquila, poderiam vencer a violência, seja simbólica ou real, e assim ainda estar aqui convivendo na sociedade, como cidadãos justos e em desenvolvimento, trabalhando e estudando. A escola é o melhor combate ao crime.
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