O Papa tornou-se símbolo de renovação, humildade e compromisso com os pobres e marginalizados
Por Diego Andrade, professor

A figura de Francisco, ao longo da história, tornou-se símbolo de renovação, humildade e compromisso com os pobres e marginalizados. Seja evocando São Francisco de Assis — o santo que abandonou a riqueza para viver entre os leprosos —, seja pensando no Papa Francisco, primeiro pontífice da América Latina, cuja liderança na Igreja Católica buscou reaproximar o Evangelho das causas sociais, sua morte, seja ela literal ou simbólica, provoca um forte abalo no campo progressista.
Bandeira
Mundo contemporâneo – A morte de Francisco — o Papa que ousou dialogar com os movimentos sociais, condenar as injustiças do capitalismo selvagem e levantar a bandeira da ecologia integral — representa mais do que a perda de uma liderança religiosa. Ela aponta para a fragilidade e os desafios da própria construção progressista no mundo contemporâneo. A morte de Francisco é também a morte de um estilo, de uma forma de fazer política e teologia com os pés no chão, com cheiro de povo, como ele gostava de dizer.
Pontificado
Ruptura – Durante seu pontificado, Francisco abriu brechas em estruturas conservadoras enrijecidas por séculos. Incentivou a escuta e o diálogo com mulheres, jovens, povos originários, LGBTQIA+, migrantes e empobrecidos. Promoveu o Sínodo da Amazônia, enfrentando críticas ferozes de setores ultraconservadores. Ainda assim, seu projeto nunca foi de ruptura total, mas de construção lenta e cuidadosa — o que, para alguns, foi coragem, e para outros, timidez.
Com sua morte, o progressismo se vê diante de um dilema: como manter viva a chama da transformação dentro e fora da Igreja? Quem herdará esse espírito de abertura, de escuta e de solidariedade radical? E, mais profundamente: qual será o futuro do progressismo diante do avanço das forças reacionárias e autoritárias em todo o mundo?
Reflexão urgente
Memória – O legado de Francisco, portanto, não se mede apenas por seus atos ou documentos, mas por sua capacidade de inspirar movimentos populares, pastorais sociais e intelectuais críticos. Sua morte convida a uma reflexão urgente sobre a necessidade de articulação entre fé e política, espiritualidade e justiça social.
Se o progressismo quiser honrar sua memória, precisará retomar sua vocação original: não de acomodação institucional, mas de compromisso prático com os que sofrem, os que lutam e os que sonham.
Quem continuará?
Caminho – Tal como o Francisco de Assis, que pregava aos pássaros e abraçava os leprosos, ou o Francisco de Roma, que enfrentou as estruturas da cúria com gestos de simplicidade e denúncia, a mensagem permanece: só há futuro possível quando os últimos se tornam os primeiros. E isso exige coragem, risco e, acima de tudo, coerência. Neste tempo de incertezas, talvez a pergunta que reste seja: quem continuará o caminho de Francisco?
Foto Vaticano/Divulgação
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