WILSON DE OLIVEIRA NETO: EDUARDO BUENO, UMA ESPÉCIE DE “DINOSSAURO”

A HISTORICIDADE DAS COISAS SÃO BENTO DO SUL

Ele se tornou conhecido entre o público como divulgador de história do Brasil

Por Wilson de Oliveira Neto, historiador

Eduardo Romulo Bueno, também conhecido como “Peninha”, é jornalista, tradutor e escritor brasileiro de Porto Alegre. Desde o final da década de 1990, ele se tornou conhecido entre o público como divulgador de história do Brasil, quando, em 1998, lançou o livro “A Viagem do Descobrimento”, o primeiro volume da coleção Terra Brasilis, publicada pela editoria Objetiva, da cidade do Rio de Janeiro.

A coleção Terra Brasilis é formada por quatro livros, lançados entre 1998 e 2006, no marco do quinto centenário do “descobrimento” do Brasil. De lá para cá, Eduardo Bueno se tornou um divulgador da história brasileira presente na grande imprensa, seja ela televisiva ou impressa, bem como na internet. Seus livros foram publicados por grandes editoras, como, por exemplo, “Brasil: uma história”, lançado pela Ática, em 2003.

Historiografia universitária
Demônios –
Eduardo Bueno é uma espécie de “dinossauro”, um dos últimos jornalistas e escritores sobre o Brasil egressos do Regime Militar (1964 – 1985), que, saturados de décadas de história oficial, laudatória e ufanista, afirmaram-se como autores de uma espécie de história a contrapelo que revelou as misérias e as vergonhas do passado brasileiro ocultadas pela história oficial.

Enquanto a historiografia universitária lidava com os seus próprios demônios, sendo inacessível para o grande público, foram os jornalistas que abalaram a história oficial e o ufanismo, como por exemplo, nos livros de Júlio José Chiavenato e William Waack.

Terra arrasada
Coxinhas da asa –
Contudo, ao escreverem suas obras, fizeram terra arrasada do passado brasileiro, reduzindo-o a uma história brancaleônica. Nesse sentido, o D. João VI interpretado por Marco Nanini no filme “Carlota Joaquina” é emblemático: um tolo adorável, comedor insaciável de coxinhas da asa, mas que nada tem a ver com o D. João VI da história.

Autores de sua época, eles confundiram crítica com desqualificação, estilo com caricatura e, principalmente, cotejaram as fontes históricas de maneira amadora e descuidada, como é possível constatar no livro “As duas faces da glória”, escrito por William Waack a respeito da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Ou, em seu trabalho posterior, “Camaradas”, onde abordou a “intentona” comunista de 1935.

Enunciação
Dicotomia –
Como diz a música, “tutto cambia” e o tipo de leitura da história do Brasil proposta por Eduardo Bueno, especialmente nas suas formas de enunciação, estão para lá de datadas, sendo o passado brasileiro nuançado, não podendo ser reduzido à dicotomia entre história oficial e história a contrapelo. Há grandeza e miséria em nossa história, além de passados presentes que insistem em não passar.

Contexto
Intérpretes públicos –
Embora datada, a geração de autores da qual Bueno faz parte teve o mérito de romper com uma história oficial, que após a redemocratização do Brasil, entrou em colapso.

Atualmente, devido aos posicionamentos públicos do autor, seu trabalho se tornou alvo de ataques, muitos dos quais injustos e desinformados, típicos de um contexto em que os usos do passado se tornaram um importante marcador político, bem como os sujeitos que se afirmam como os seus intérpretes públicos, tais como o próprio Peninha.

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