GUILLERME SLOMINSKY: SANGUE LATINO

"FRAGUIMENTOS" SÃO BENTO DO SUL

até hoje essa música, tão atual, é um símbolo de resistência e verdadeiro espírito patriota

Por Guillerme Slominsky

se você bebe coca-cola ao invés de guaraná, tem tudo a ver com a música de hoje. em 1977, “sangue latino” foi uma afronta aos militares e popularizou gerson conrad, joão ricardo e ney matogrosso como os icônicos “secos e molhados”.

ney saiu da cidade de bela vista, no mato grosso do sul, aos 17 anos, brigado com o pai por causa de sua personalidade excêntrica. anos mais tarde afirmava que “sempre foi um espinho atravessado na garganta do pai”.

em são paulo foi trabalhar com moda e teatro antes de entrar para o trio, coisa que se reflete em suas performances animalescas, carregadas de transgressão e originalidade.

“jurei mentiras e sigo sozinho
assumo os pecados
os ventos do norte não movem moinhos
e o que me resta é só um gemido”

golpistas
desastre –
tanto eu quanto meus assessores acreditamos que nosso apoio deve ser dado aos golpistas para ajudar a impedir um desastre grande aqui (…) que pode transformar o brasil na china na década de 1960“, dizia a carta de lincoln gordon, embaixador dos EUA, em 27 de março de 1964, quatro dias antes do golpe militar no brasil.

segundo mariana joffily, pesquisadora da udesc, os militares “ajudaram a orquestrar toda uma operação não declarada de desestabilização do governo joão goulart, sob a forma de financiamento da oposição nas eleições de 1962, no suporte a governadores críticos ao governo e fomentando a propaganda política oposicionista. houve contribuição efetiva, portanto, na conspiração para derrubar o governo”.

mídia estrangeira
carga opressiva –
quando se fala dos ventos do norte, é justamente sobre a carga opressiva da mídia estrangeira sobre os valores sul-americanos e latinos, que bate palmas para o espetáculo americanizado enquanto rebaixa ou ostraciza o que é do povo, o que é nosso.

“minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos
meu sangue latino
minh’alma cativa
rompi tratados, traí os ritos
quebrei a lança, lancei no espaço
um grito, um desabafo
e o que me importa é não estar vencido”

originalidade
capa –
nessa linha, essa canção vem mostrar toda a originalidade de um povo, com os integrantes caracterizados bem distantes da cultura enlatada, cantando, tocando e bradando que aqui tem música, arte e sangue latinos.

as primeiras mil e quinhentas cópias do disco, contratadas para um ano, venderam em uma semana e a capa ficou internacionalmente conhecida por seu imenso valor estético.

prato
arroz e feijão –
até hoje essa música, tão atual, é um símbolo de resistência e verdadeiro espírito patriota, que não cospe no prato de arroz e feijão que come,

até a próxima!

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